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A MORTE DE UM REI

Um rei famoso, uma grande visão

Agora vamos analisar o que a Bíblia nos diz sobre a morte de um rei. Na verdade não um rei qualquer, mas um dos reis notáveis de Judá, Uzias (ou Azarias). Ainda que não um reformador do porte de Josafá, Ezequias ou Josias, Uzias foi entretanto um rei laborioso, que fez boas coisas por seu povo [ [1] ]. O nosso texto básico encontra-se no livro do Profeta Isaías, capítulo seis. Acompanhe este texto certamente bastante conhecido, fonte permanente de proveitosos estudos e meditações. No ano da morte do Rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas, com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés, e com duas voavam, e clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, e toda a terra está cheia da sua glória.

 

Breve retrato de muitas carreiras cristãs

Queridos irmãos e amigos, uma das coisas que achamos mais impressionante na vida de um crente, de um servo de Deus, é justamente o desejo que ele tem de ser usado poderosamente nas mãos do Senhor. É a coisa mais difícil você encontrar um crente que não queira ser usado por Deus na pregação do Evangelho, que não se interesse em ser um missionário bem sucedido, ou uma pessoa aquinhoada com os dons espirituais, da cura divina, de poderes milagrosos, ou ainda de ser um escritor inspirado e fluente –- enfim, de ser um pastor de uma grande igreja. Eu acredito que toda a pessoa, logo que aceita Jesus como seu Salvador pessoal, esses desejos lhe vêm ao coração. E o que acontece? Essa pessoa começa a batalhar. E Deus passa a usá-la. A pessoa começa a crescer, depois se engrandece e, em muitos casos, logo passa a se envaidecer, pois reconhece como um mérito pessoal –- não é! –- o fato de estar sendo realmente usada por Deus. Mas chega um ponto em que parece que as coisas estagnam, param. Não se vê mais aquele progresso espiritual, os reflexos do seu primeiro amor: a tendência da pessoa é esfriar, e à medida em que este amor esfria, a pessoa cai na rotina, e esta rotina de vida a vai conduzindo praticamente a uma vida espiritual medíocre. Porque quando o crente estagna, na verdade ele não apenas estagna, mas começa a regredir. Não há estagnação na vida espiritual, há regressão. Quem pára, regride, começa a voltar para trás e a sua vida espiritual passa a ser uma coisa praticamente sem sentido. Pode até continuar fazendo as coisas e ser ainda usada por Deus, mas aquela ascensão que experimentara, aquele progresso, isso cessou. Como se estivesse exaurido, acabado. E começa então a diminuir.

 

Descrevendo o início da missão do grande Profeta Isaías

Quando você inicia a leitura do livro do Profeta Isaías, você percebe de imediato a extraordinária potência deste homem. Ele levantava-se contra o pecado com grande veemência no meio da sua nação, e suas mensagens eram realmente duríssimas, mensagens que abalavam praticamente qualquer um. Não só pelo seu conteúdo, mas também porque, segundo a tradição, Isaías tinha sangue real, sangue da linhagem nobre da Casa de Judá. Era o pregador dos palácios, da elite. Enquanto nessa mesma época Miquéias profetizava à zona rural, Isaías exercia o seu ministério entre as elites. E este homem não temia, não contemporizava, e vinha pregando: “o boi conhece o seu dono, o jumento o dono da sua manjedoura, mas o Meu povo não Me conhece (…); ainda que os vossos pecados sejam como a escarlate, se tornarão brancos como a neve [ [2] ]!” E assim vinha ele atropelando tudo, vinha pregando e denunciando as mazelas de sua época, vinha realmente numa avalanche, com muita força, grande eloqüência e todo aquele poder, pregando contra o pecado. Isaías era uma pessoa que não tinha, como diz uma expressão popular, não tinha papas na língua. Era uma autoridade realmente extraordinária. Mas eis que um episódio muito interessante acontece na vida de Isaías. Como dissemos, fontes extra-bíblicas sugerem que Isaías pertencia a algum ramo da família real, era parente do Rei Uzias.

 

O que aconteceu, de muito importante, quando Uzias morreu

Então escreve Isaías, no capítulo seis do seu livro: No ano da morte do Rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Pôde você notar aqui este fato interessante? Ora, o que vemos de tão notável nestas palavras? Observamos que o texto bíblico nos dá a entender que o Profeta Isaías passou a ter visões depois da morte deste rei. E este capítulo mostra que ele também ouviu a voz do Senhor, depois da morte deste rei. E qual era o poder da influência deste rei sobre a vida do Profeta Isaías? Quem era este Rei Uzias? Importante havia de ser, pois Isaías só passou a ter esta visão, este verdadeiro reencontro com Deus, depois da morte desse rei. Vamos analisar aqui um pouquinho para você entender o que significa este rei na sua vida. Pois o tema de nossa mensagem é A Morte de Um Rei.

 

O rei que precisa morrer

Esta pergunta é muito importante: que rei é este que precisa morrer para que um grande servo do Senhor passe a ter as visões e as revelações do céu? Voltando um pouco até o Segundo Livro de Crônicas, no capítulo vinte e seis, versículo dezesseis em diante, eis o que revela a Palavra do Senhor: Mas havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína, e cometeu transgressões contra o Senhor, seu Deus, porque entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar de incenso. Esta é uma referência a atitude do Rei Uzias, quando estava no poder. Estudando a história de Judá, você pode observar que o Rei Uzias foi um dos bons reis que Israel teve. Este homem fortaleceu o seu exército, fez grandes obras públicas, reedificou muitas localidades dentro do território de Judá –- ele tinha um tino administrativo realmente impecável, era um sujeito humilde, uma pessoa simples, uma pessoa realmente com o coração voltado para a população, para o governo, para o reino e para os seus súditos. Mas diz aqui a Bíblia Sagrada, no versículo dezesseis, havendo já se fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína, e cometeu transgressões contra o Senhor seu Deus, porque entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar de incenso. Você sabe, meu querido irmão, que não competia aos reis ou aos descendentes da tribo de Judá, de onde vinha a linhagem real, entrar no templo para oferecer incenso. Isso, só quem podia fazer, era a tribo de Levi, eram os levitas, eram os sacerdotes; creio que você sabe que todo o sacerdote era levita, mas nem todo o levita era sacerdote. E quem podia entrar no templo para oferecer incenso eram exclusivamente os sacerdotes, levitas, da tribo de Levi [ [3] ]. E no trecho transcrito de Crônicas encontramos o Rei Uzias arrogando-se, com base no seu direito de rei, ou na prepotência do seu poder, achando que tinha liberdade para fazer o que bem entendesse, em qualquer esfera, em qualquer área –- este homem, presunçosamente, abandonou sua esfera política e administrativa, que era o âmbito do seu papel, e reivindicou para si cumprir também o papel de sacerdote. Diz assim a Bíblia que ele entrou no templo para oferecer incenso. Porém o sacerdote Azarias entrou após ele, com oitenta sacerdotes do Senhor, homens da maior firmeza, resistiram ao Rei Uzias, e lhe disseram: a ti, Uzias, não compete queimar incenso perante o Senhor, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados para esse mister! Sai do santuário, porque transgrediste; nem será isso para honra tua, da parte do Senhor Deus! Então Uzias se indigno; tinha um incensário na mão para queimar incenso, e indignando-se ele pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu na testa, perante os sacerdotes da casa do Senhor, junto ao altar de incenso. Então o sumo sacerdote Azarias e todos os sacerdotes voltaram-se para ele e eis que estava leproso na testa, e apressadamente o lançaram fora; até ele mesmo se deu pressa em sair, visto que o Senhor o ferira. Assim ficou leproso o Rei Uzias, até o dia da sua morte. E morou, por ser leproso, numa casa separada, porque foi excluído da casa do Senhor; e Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o povo da terra. Foi esta a maneira como foi ferido por causa da sua arrogância, da sua prepotência, do seu orgulho, da sua grandeza: foi justamente isso o que aconteceu.

 

Ascensão e queda do crente

É comum o homem, seja ele plebeu ou “de fina estirpe” [ [4] ], depois que alcança certa postura, dispor-se a pensar que já é Deus. Começa a projetar em seu íntimo que já é alguma coisa –- quando, na verdade, devia é reconhecer que o poder vem de Deus, o cargo exercido é proporcionado por Deus, o dom e a unção procedem diretamente de Deus; mas quando o homem resolve pensar que tudo isso decorre de sua própria capacidade, é nesse ponto que começa a perder o terreno, é aí que se inicia realmente a perda da visão que tinha anteriormente. Ele pára de ouvir a voz do Senhor, por que? Porque agora o orgulho não permite mais isso. Não permite mais que seja aquela pessoa humilde, simples, cordata. Pois assim era justamente aquele rei, que reinava no tempo do Profeta Isaías. Você pode calcular o que significa, querido irmão? Eu não vou dizer que o Profeta Isaías fosse um homem que tivesse um compromisso político com alguém, mas infelizmente é o que muitas pessoas hoje em dia têm: muitas pessoas estão vendidas para a política e para políticos e existem pessoas que estão compromissadas com este mundo, ou com agentes deste mundo, e não podem falar alto, não podem proclamar o Evangelho com liberdade; porque têm medo, porque estão comprometidas com alguém, e não têm mais a unção inicial! Acabou-se. Não mais como no princípio, quando era aquela pessoa simples, quando era aquele irmão que realmente pregava o Evangelho na sua simplicidade; mas de repente achou que tinha condições, que era portador de um dom especial, que Deus o havia colocado num lugar de destaque, e que então poderia fazer barganha com o que quisesse. Que ele adquirira um valor tal que pode agora se vender para quem deseje. E passa a agir exatamente como acontece no meio dos ímpios. Trata-se da propina que as pessoas recebem justamente para se vender, e assim se tornam praticamente compromissadas! Meu querido irmão, que Deus nos guarde de algum dia tomar a igreja do Senhor, ou os talentos que Deus nos deu, e achar que com isso podemos fazer uma grande transação comercial e nos comprometermos com alguém: o ministério de quem o fizer está fadado ao fracasso! À estagnação e à derrocada, sem qualquer atenuante! É preciso que nós entendamos isto. Deus salvou você, Deus o chamou, Deus adornou-o com dons especiais, porque você é uma preciosidade nas mãos do Senhor!

 

Você observou que Isaías vinha, na realidade, com todo aquele ímpeto, aquela força, quem sabe até certa prepotência e, de repente, o que foi que aconteceu? Diz a Bíblia, no ano em que morreu o Rei Uzias, eu vi o Senhor assentado num alto e sublime trono! Eu vi o Senhor assentado num alto e sublime trono! Quando Isaías teve esta visão, observe só, quando ele teve esta visão de Deus, a primeira coisa que reconheceu, está no versículo cinco do capítulo seis: Então disse eu: Ai de mim, estou perdido!, porque sou homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! Meus queridos irmãos, que preciosidade! Que coisa maravilhosa! A primeira reação que o profeta teve aqui neste momento, o seu primeiro sentimento, foi justamente este: estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios!

 

Restauração

Como é precioso quando a pessoa reconhece a sua situação, quando a pessoa descobre a tempo qual é o seu verdadeiro estado! Aqui nós encontramos o profeta dizendo, ai de mim!, porque sou homem de lábios impuros! Meu Deus! Eu fico às vezes pensando: “Mas profeta, o Profeta Isaías, um homem de lábios impuros?! Um homem que pregava contra o pecado, que pregava a santidade, a pureza, a honestidade, um homem que se levantava contra uma nação inteira –- ele reconhece o seu pecado nesta hora, reconhece que é um pecador! Bendita a descoberta a tempo ainda de se refazer e prosseguir na vida ministerial! Como é bom quando o homem reconhece isto! E tem a possibilidade de voltar atrás, de recuar, e começar tudo de novo, e não prosseguir, lutando contra os aguilhões! [ [5] ] Para isto aqui é preciso coragem, sabe, amigo leitor? É preciso coragem, porque muitas vezes subimos a uma cátedra, à tribuna de um senado, de uma câmara de deputados, ou mesmo ao púlpito de uma igreja, e começamos a pregar a santidade e a honestidade, e daqui há pouco se descobre quem é o verdadeiro elemento que está por trás de tudo aquilo! É preciso que o homem tenha um reencontro com Deus, deixe de estar camuflando algo para que o povo não descubra, mas não adianta, porque Deus vê!

 

Como mostra aqui a Bíblia, o Profeta Isaías teve um encontro com Deus. E você sabe qual foi a mensagem proferida pelos querubins nessa hora? Como descreve o versículo três: (os querubins) clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos! Santo, meu querido! No momento em que você se aproxima da santidade de Deus, no momento em que você vai se aproximando da pureza cristalina do Senhor, no momento em que você vai se achegando cada vez mais a Deus, e vai verificando a claridade do Seu esplendor, da Sua glória, você vai descobrindo a sua própria podridão e sujeira, e por isso Isaías quis morrer nessa hora! Porque diante da santidade de Deus não há pecado que se esconda, não há nada oculto que não seja revelado, nada impuro que não venha à tona! Foi justamente quando Isaías se aproximou desta pureza, e desta santidade divina, é somente aí, meu querido irmão, meu prezado amigo, é só nessa hora que você descobre quem verdadeiramente você é. Repetindo: é só neste momento que você descobre quem você é.

 

O exemplo do encontro de Moisés com Deus

Moisés estava com oitenta anos de idade, no Monte Sinai, lá em cima, quando Deus o procurou. Ele passara os seus primeiros quarenta anos sendo adestrado e aprimorado em toda a cultura do Egito, e os quarenta anos seguintes no deserto, exatamente para tirar todo o Egito de dentro de si. Então, quando Moisés tem o seu extraordinário encontro com Deus, Deus de imediato lhe ordena, tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa [ [6] ]! Por que tirar as sandálias? Porque aquelas sandálias eram a última lembrança que ele tinha do Egito. Ele havia eliminado tudo o que trouxera do Egito, até a sua cultura, sua linguagem, até o cheiro que ele tinha, uma catinga do Egito –- tudo aquilo ficou no deserto. Mas quando se encontrou com Deus, ainda levava como última lembrança aquelas sandálias. E Deus disse, “tira as sandálias dos pés!” Naquele exato momento, quando Moisés tirou aquelas sandálias, ele foi envolvido na glória e na santidade de Deus. É disto que nós precisamos, é ter um reencontro com Deus, tirar a sandália podre, fedorenta, lá do Egito, que está impedindo a visão cristalina, a glória do Senhor na nossa vida. Louvado seja o nome do Senhor!

 

Não adianta você recalcitrar contra os aguilhões. Não adianta você querer insistir numa coisa que Deus está vendo. Ele sabe. Nem bem a palavra chegou à nossa boca e Ele já sabe o que nós vamos dizer [ [7] ]. Ele sabe perfeitamente se aquele dinheiro que temos na poupança foi adquirido honestamente ou não, Ele sabe! Ele sabe que aquele carro que eu tenho, ou que você tem, se aquilo é uma propina, ou foi alguém que lhe deu, ou foi adquirido com o suor do seu rosto. Ele sabe, ninguém pode fugir da presença Dele. Ninguém engana Deus; e mais, diz a Bíblia, dura coisa é cair nas mãos do Deus vivo [ [8] ]! Tenha um reencontro com Deus. Aproxime-se da santidade Dele. Aproxime-se deste Deus maravilhoso, que você descobrirá quem você é! Que você vai descobrir quem você é e o que você tem. Mas vamos prosseguir. Vamos analisar a morte daquele rei dos tempos do Profeta Isaías.

 

Repassando a vida do Rei Uzias

O Rei Uzias, como você viu, começou na simplicidade. Ele usou a sabedoria que Deus lhe dera para fortalecer a nação, o seu exército, as obras públicas. O tempo do Rei Uzias foi uma época muito especial para Judá. Mas como verificamos no Segundo Livro de Crônicas, havendo já se fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína. Aqui está o orgulho. Achou que se tornara importante, que já era potente? Achou que não era mais aquele simples diácono? Que agora já tinha passado pelo papel do presbítero? Não era mais pastor daquela pequena congregação? Agora já liderava um povo imenso? Deixara de ser aquele vereador, que lutava pelas causas públicas, já agora era um deputado federal, estadual, ou senador, ou ministro? E aqui Uzias era o rei da nação, o rei de Judá, o comandante-chefe, o posto mais elevado, que estava acima e à frente de tudo. Então se exaltou o coração, para a sua própria ruína. Irmãos, todo o começo é humilde; mas há uma tendência no coração do homem, quando se fortalece, de se tornar prepotente, olhar os outros de cima para baixo… E este Rei Uzias, diz a Bíblia, morreu leproso, porque quis fazer coisas que não lhe competiam. Morreu leproso.

 

A lição do Rei Uzias

Pois este rei, sabe onde ele se encontra figurativamente? Ele se encontra dentro do coração de muitas pessoas. É o rei do eu. Este rei é vaidoso, é prepotente; quando o meu eu quer prevalecer, é daí que começa a ruína, porque a soberba, como diz a Bíblia, ela precede a ruína, a destruição [ [9] ]; e foi justamente nesse momento que esse homem se engrandeceu, e quis ser o que foi. Pois a Bíblia sugere que esse rei era como se estivesse dentro do Profeta Isaías. Observe só: “no ano em que o Rei Uzias morreu, eu vi o Senhor, eu vi o Senhor”. Isto dá a entender que até certo ponto Isaías não tivera ainda visões de Deus, não ouvira a voz de Deus, porque havia alguém que o controlava, ou seja, o rei; mas no momento em que esse rei morreu, Isaías viu. A primeira coisa que aparece aqui no texto bíblico é: “no ano em que morreu o Rei Uzias, eu vi o Senhor!” Os seus olhos se abrem quando essa vaidade desaparece; os seus olhos vão se abrir quando este rei do eu morrer na sua vida. Você vai passar a ter visões da glória de Deus. Sim, você, que estava estagnado! E estagnado por que? Por causa da sua prepotência e presunção; mas no momento em que tudo isto se vai, no momento em que aquele rei morre, você passa a ter visões de Deus. Você passa a ver a glória do Senhor –- e não era isto que lhe interessava quando você era novo convertido? Quando você tinha nascido de novo, lá no princípio, você queria ver! Mas de repente o eu tomou conta de seu ser (o “rei do eu”), você parou de ver, não mais viu nada, e só voltará a ver no momento em que esse rei do eu morrer em sua vida!

 

A visão do Trono

Como diz Isaías, na Bíblia, no ano em que morreu o Rei Uzias, eu vi o Senhor assentado num alto e sublime trono! Assentado num alto e sublime trono, que visão! O que esta visão quer dizer? Porque naturalmente, quando este rei do eu morreu, ou quando o Rei Uzias morreu, Isaías de repente aprendeu a orar. Ele correu para o templo. Refugiou-se no templo, depois da morte de Uzias. Até então tudo fora garantido: saúde, dinheiro, proteção real, tudo muito bom. De repente o rei morre, e ele aprendeu a orar. Foi lá para o templo, buscar o Senhor. E nós encontramos nesse momento a primeira visão que ele teve. Não podia ele ter tido a visão de uma floresta? Ou uma visão como as que teve Daniel? Mas Isaías teve a visão do Senhor assentado no trono. O que Deus quis dizer com isso? Preste bem atenção, pois Deus quis dizer o seguinte, não só para o Seu servo Isaías, mas para cada um de nós que, de alguma forma, também temos o nosso Uzias: “Isaías, o rei da terra morreu, Meu filho; mas o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, o Soberano do Universo, Ele ainda está assentado no trono da Sua majestade; Este aqui nunca morre e nunca falha; o rei da terra morre, mas o Rei do Universo permanece para sempre!” De eternidade em eternidade [ [10] ], Tu és Senhor, como diz o servo de Deus. É justamente isso que nós precisamos entender. É isso que nós precisamos compreender e aplicar como foco de nossa vida. Deus estava dizendo para Isaías: “Isaías, não se preocupe, Meu filho, se você era protegido pelo rei da terra, e ele morreu, não se preocupe, que você agora vai ser protegido pelo Rei do Universo”.

 

É este Rei que nós queremos, meu irmão. Este que nós desejamos, é este Rei que não cobra nada de ninguém, este Rei que concede liberdade para fazer a obra de Deus, para fazer o que você quiser da sua vida, desde que não seja para pecar! É este Soberano do Universo que deve reger a nossa vida, e não o rei do eu ou qualquer similar ao Rei Uzias, não; mas o Soberano de toda a Terra, este sim, vale a pena! E nós encontramos aqui, neste momento, nesta visão gloriosa, nesta visão preciosa, revelada a santidade de Deus!

 

Ver, mas também ouvir

Mas nessa portentosa cena do trono há mais um detalhe muito importante. No versículo primeiro, Isaías passou a ver, ele viu; e, no versículo oito, olhe o que está aqui: Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia (…). Primeiramente ele viu, agora ele ouviu. Que coisa maravilhosa é quando o homem passa a ter os seus ouvidos, a sua audição aberta à voz de Deus! No Livro do Apocalipse esta citação é repetida sete vezes: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas [ [11] ] !

 

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Nós estamos ouvindo hoje muitas vozes: é a voz do mundo, a voz da Globo, a voz da novela, a voz da política e todos os ecos deste mundo. São estas as vozes que sobressaem, é o que estamos ouvindo. Porém o apelo de Deus é: “quem tem ouvidos para ouvir, ouça a voz do Espírito!” Foi o que aconteceu na vida do Profeta Isaías: Depois disto, ouvi a voz do Senhor. Glória ao nome de Jesus! O que nós precisamos é ter uma audição aberta, para ouvir o que Deus tem para nos dizer. O que Deus quer falar comigo, o que Deus quer falar com você, o que Deus quer falar com o nosso povo. Precisamos ter a nossa audição aberta, ter um ouvido limpo, para entender o que Deus quer nos comunicar. Por que Isaías não ouviu a voz do Senhor antes, e só passou a ouvir depois que morreu o Rei Uzias? É porque esse rei da vaidade, esse rei do eu, ele não nos permite ouvir a voz de Deus; e eis que Deus está falando conosco diuturnamente; mas nossos ouvidos estão cheios de cera, muita cera, cera dos filmes imorais, cera da política degradante, cera da generalizada prostituição que invade este mundo, cera da violência que está subjugando as nações da Terra! Estamos tão atentos a ouvir o que o mundo está dizendo e mostrando que não vemos o que Deus está fazendo, nem ouvimos o que Deus está falando! Que o Espírito Santo possa limpar os seus ouvidos nesta manhã, e você tenha a sua audição aberta para ouvir a voz do Senhor! Que você possa realmente estar atento a ouvir o que o Espírito está falando, e falando constantemente. Ele está falando pela Sua palavra, Ele está falando pelo pastor da igreja, Ele está falando pelo seu professor da escola dominical, Ele está falando através do seu devocional, Ele está falando de todas as formas e nós não estamos ouvindo!

 

Mas diz aqui o Profeta Isaías, “depois disto, ouvi!” –- Ah!, bom, depois que o rei morreu! Enquanto esse rei da sua vida não morrer, você não pode ver e nem ouvir o que Deus está fazendo. Enquanto esse rei do eu dominar o seu ser, você não vai progredir, não vai crescer espiritualmente, de forma nenhuma.

 

A restauração é precedida do reconhecimento e da confissão

Porém a coisa mais nobre que eu encontro neste trecho, a coisa mais impressionante que descobrimos aqui é quando o homem reconhece a sua fragilidade, reconhece realmente o que está no seu íntimo, no seu coração; é quando reconhece e tem a humildade suficiente para confessar a sua triste situação! É justamente o que está registrado aqui, no versículo cinco, onde constatamos a humildade de Isaías: Então disse eu, ai de mim, estou perdido, porque sou homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios! E os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! O caminho para o progresso está justamente no arrependimento e na confissão, porque, diz a Bíblia, aquele que confessa e deixa, alcança misericórdia [ [12] ]. Aquele que confessa e deixa, alcança a graça divina. Diante da santidade cristalina de Deus, Isaías confessou e reconheceu a sua situação. E não teve qualquer acanhamento em admitir: eu sou um homem de lábios impuros. A coisa mais difícil hoje é você ver um homem de elite, um homem de destaque, um homem de linha de frente chegar perante o público e reconhecer: “eu sou um homem de lábios impuros”. Pelo contrário, joga a sua impureza para dentro do baú, esconde cuidadosamente aquilo, e não quer que ninguém saiba. Ele guarda as suas iniqüidades debaixo de sete chaves! O seu pecado é intocável! Abrir esse baú? E tirar essa podridão aí de dentro? Só Isaías fez isso, meu irmão. Isaías reconheceu, eu sou um homem de lábios impuros! Mas você sabe que aquele que confessa e deixa, alcança misericórdia. Isso vale para mim, para você, para qualquer pessoa!

 

Prossegue a Bíblia narrando que um dos serafins trouxe uma brasa viva numa tenaz, tirada do altar, e tocou nos lábios do profeta. Meus irmãos, isto aqui é naturalmente um símbolo do fogo divino, do fogo do Espírito Santo, este fogo que queima, e não se consome; este fogo que só queima o pecado. Você se lembra quando Sadraque, Mesaque e Abede-Nego foram lançados na fornalha ardente [ [13] ]? Pois é, aquele fogo não os queimou. Mas os homens que foram verificar a situação, esses foram dissipados na hora. O fogo divino só queima pecado, não queima espiritualidade. Ele queima a carnalidade. Foi justamente o que aconteceu na vida do Profeta Isaías: queimou o pecado. Ele confessou e deixou. Que magnífica sublimidade de Isaías! Que humildade, a deste homem, que sinceridade a sua, em confessar que, não obstante sendo ele um profeta de Deus (você se lembra que ele foi constituído por Deus como profeta), reconhecia que profeta também é homem, profeta também é falho, profeta também tem as suas fraquezas, mas também profeta sabe dar marcha à ré na sua vida espiritual, e voltar, e confessar, e pedir perdão, e ser perdoado, e ouvir de Deus a expressão do versículo oito, depois disto eu ouvi a voz do Senhor, que dizia, a quem enviarei e quem há de ir por nós?

 

Estamos comissionados no lugar que pertence ao Senhor

Ah!, que maravilha, que preciosidade! Deus toma um pecador perdido, Deus pega um homem pecador confesso, perdoa, purifica, restaura, e depois lhe dá um cargo que não tem coisa igual! Isto aqui não é um convite do prefeito da cidade, não é convite do governador do Estado, não é convite do presidente da Nação, não é convite de uma rainha de uma nação, não, mas é convite que vem lá do Trono da Glória –- e pergunta: “quem enviarei, e quem é que pode ir no Meu lugar, quem é que pode ocupar o Nosso lugar? Quem é que poderia estar no lugar onde Eu deveria estar mas não posso? Quem é que pode ser o Meu embaixador na Terra? Quem é que pode ser o Meu porta-voz na Terra?” Irmão querido, quando você está assumindo o púlpito de uma igreja, ou a tribuna de um senado, visto que toda a autoridade é constituída por Deus [ [14] ], tenha sempre em mente que aquele lugar ali pertence a Deus. Mas como Ele não pode estar, Ele pergunta para você: “Jorge Valle, você pode ocupar o Meu lugar? Você pode ir no Meu lugar?” O lugar em que eu estou ocupando é um lugar que pertence ao Senhor. O lugar que você ocupa na tribuna ou no púlpito da sua igreja pertence a Deus. E como Ele não pode estar aqui na Terra, Ele pergunta para você: “Meu filho, você pode ir no Meu lugar?” Este lugar é muito honroso, irmão. Este lugar é muito especial.

 

Este lugar é muito sublime. Mas para você chegar a este lugar e assumi-lo com perfeição, você precisa ver o que aconteceu no versículo primeiro, no ano em que morreu o Rei Uzias. A partir do momento em que morre esse rei na sua vida, você vai passar a ter uma outra página na sua existência. E você sabe que o ministério do Profeta Isaías mudou, dali para frente. Desse capítulo em diante Isaías não é mais aquele homem que pregava apenas para a sua nação: ele passou a ter visões extraordinárias –- da virgem que conceberia e daria à luz um Filho [ [15] ] (e o Seu nome será Emanuel, Ele será realmente Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz [ [16] ]), visões da eternidade, visões do Milênio, visões da Glória de Deus! Permita que esse rei da sua vida, esse rei do eu e da vaidade, da prepotência, permita que ele morra, porque vale a pena ser um embaixador do Céu aqui na Terra! Que Deus fale ricamente ao seu coração, e você possa sentir mais e mais a presença de Deus em sua vida, e ser um embaixador do Reino!

 

[ [1] ] Azarias, como é chamado pelo autor de Reis, reúne poucas informações neste livro (II Re 15:1-7); é II Crônicas quem revela maiores dados do caráter e da administração desse rei, aqui , como em Isaías, chamado Uzias (II Cr 26:1-23).

[ [2] ] Isaías 1:3, 18

[ [3] ] Sobre a oferta de incenso, ver Ex 30:7-9a. Incenso estranho, ou fora das especificações contidas na Lei, era drasticamente punido –- ver Lv 10:1-3. Nadabe e Abiú eram filhos de Arão, levitas. E se alguém fizesse incenso para uso próprio, segundo a receita dada por Deus a Moisés, a sentença está em Ex 30:34-38.

[ [4] ] Lembrando a elegante ironia do Salmo 49:2.

[ [5] ] Lembrando o diálogo de Jesus com Paulo, em Atos 26:14 (e só nesta passagem).

[ [6] ] Êxodo 3:5.

[ [7] ] Salmo 139:4.

[ [8] ] Hebreus 10:31 (Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!)

[ [9] ] Provérbios 16:18 (A soberba precede a ruína).

[ [10] ] Moisés, no Salmo 90:2 – De eternidade a eternidade, tu és Deus!

[ [11] ] Apocalipse, capítulos 2 e 3, em cada uma das cartas enviadas às sete igrejas. (Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.)

[ [12] ] O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcança misericórdia

(Provérbios 28:13).

[ [13] ] Daniel 3

[ [14] ] Romanos 13:1

[ [15] ] Isaías 7:14.

[ [16] ] Isaías 9:6