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PERDÃO

A Parábola do Servo Impiedoso

Perdão. Este é o nome simples de nosso profundo tema deste capítulo. E para a nossa meditação vamos abrir em Mateus, capítulo dezoito, versículos vinte e um em diante. Então Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes o meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Por isso o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos, e passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido, ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. Então o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Saindo porém aquele servo encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários. E agarrando-o, o sufocava, dizendo, paga-me o que me deves! Então o seu conservo, caindo-lhe aos pés lhe implorava: Sê paciente comigo e te pagarei. Ele entretanto não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo o que acontecera. Então o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado! Perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu igualmente compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um ao seu irmão. Repetindo o verso trinta e cinco: Assim também o meu Pai celeste vos fará, se do íntimo, não perdoardes, cada um, ao seu irmão. Que Deus, na Sua infinita misericórdia, abençoe os nossos corações, face à leitura da Sua Palavra.

 

O que  precede o perdao (a ofensa)

O que vem a ser o perdão? O perdão surge naturalmente como conseqüência; é uma conseqüência que leva a outra: uma pessoa odeia, aborrece, trata os outros como adversários; é deste quadro que nasce o perdão. Em síntese, o perdão é fruto ou resultado da convivência humana. É preciso ter arte para viver, para você conviver com pessoas. Basta alguém estar com outra pessoa para surgirem desavenças. Porque nem todos pensam do mesmo jeito, nem todos têm a mesma idéia. E ofender muitas vezes é involuntário, pois as ofensas surgem, elas vêm. Basta haver convivência. Vamos tomar um cenário comum à quase totalidade dos seres humanos, o lar. Via de regra descrito como local de  paz, tranqüilidade e proteção, na verdade se sabe que infelizmente não é assim. O lar, por exigir convivência obrigatória, é palco de violência mais comum do que se pensa. Mas o perdão desativa o mecanismo de violência no lar. Verifique por exemplo, quantos tipos de violência ocorrem no lar. Existe a violência física, a violência verbal, a violência facial, e a violência espiritual, religiosa.

 

Características dos tipos de violência

É comum esses quatro tipos de violência surgirem num lar, entre as famílias, entre as pessoas. A violência física: quando os braços e as pernas se transformam em armas, quando a violência é no leito, na cama do casal, quando as pessoas se desentendem e partem para as vias de fato; é coisa incrível quando um homem perde o seu equilíbrio, perde o seu raciocínio e utilizando-se da força bruta, física, ele parte para a agressão. Ele quer se sobrepor, quer mostrar que é o cabeça, é o líder, e parte para a violência física. Ele não sabe que com isso está perdendo. Ele pensa que está ganhando, mas pelo contrário, está é perdendo. Porque você usar de violência física contra a sua esposa e contra os seus filhos, você pode até sair vitorioso, dizendo, “quem manda aqui sou eu!” Você sai; mas deixa muitas vezes a sua esposa, deixa os seus filhos lambendo as suas chagas, lambendo as suas feridas, enquanto você sai “numa boa”.

 

Deixe isso para o reino animal. No Livro de Apocalipse, no capítulo catorze, diz ali a Bíblia que fora ficarão os cães. Os cães nessa passagem não são os cachorros, não; são as pessoas que têm espírito beligerante, espírito de guerra. Um cachorro, até para saudar o outro, ele saúda com os dentes. Os laços de amizade entre os cães são formados com brigas. Mas o ser humano tem raciocínio, tem inteligência, sabe se comunicar, sabe como fazer as coisas. E justamente por usar a força física, a violência física, é que muitos depois se arrependem e passam a pagar uma pena muito alta porque dizem assim: “mas como é que eu não pude me controlar nessa situação?!”

 

A fúria destrutiva da palavra

O segundo tipo de violência que você encontra no lar, sabe qual é? É a violência verbal, quando as palavras se tornam bombas poderosas, quando as palavras formam expressões agressivas, hostis, termos de baixo calão, imagens duramente depreciativas. Você sabe que, se existem pessoas que se amam, é o casal. O casal, nos momentos de delícias, você sabe que se um pisa no outro, aquilo passa, rapidamente, e desaparecem bem depressa todos os vestígios. Quando as pessoas se amam, confessam as suas falhas, as suas fraquezas; você passa a conhecer intimamente o seu cônjuge, os seus filhos, justamente porque você tem a oportunidade de estar com eles, e mostrar o seu amor. Mas uma coisa muito estranha acontece quando você sai do sério, quando você abandona o uso da sua razão, quando você entra naquela raia animalesca: nessa hora tudo aquilo que você ouviu em momentos de amor, de carícias, vem à tona; começam a vir à tona realmente aquelas coisas que foram cometidas e que geram motivo de perdão; mas você traz só para machucar, para maltratar, para amassar a pessoa.

 

Normalmente nos conflitos de casais a violência verbal predomina. É “mais” quem quer dar aquela palavra para nocautear o adversário; mas quando ele pensa que nocauteou com uma palavra agressiva, bruta, grosseira, o outro vem com uma palavra ainda mais grosseira, mais baixa, mais violenta, e os abalos morais surgem justamente nestas horas. Então a violência verbal é realmente algo que machuca, que maltrata. Certa ocasião eu soube por exemplo do caso de um moço. Ele casou-se com uma moça que havia sido prostituta. Quando a namorava ele perdoou tudo aquilo, perdoou, muito bem; conviveram, teve os seus filhos; vinte anos depois de casados, um dia eles estavam num desses momentos agressivos, e de repente o cidadão abre a boca e diz para a sua mulher: “você parece uma prostituta!” Naquele instante todo o passado daquela mulher veio à tona, e ela ficou num estado tão terrível, porque acreditou que durante aqueles anos todos o marido convivera com ela como se estivesse convivendo com uma prostituta. Isso porque vinte anos depois ele veio lançar no rosto o seu passado. A violência verbal machuca. Ela maltrata. O seu marido pode ter sido um ladrão. Ele pode ter sido um criminoso, um bandido; a sua mulher pode ter sido a mulher mais conhecida do bairro, mas se vocês se casaram e você perdoou, nunca mais toque nesse assunto. O perdão não é esquecer; o perdão é não tocar mais no assunto. Procure viver uma vida alegre, feliz, procure esquecer as coisas que para trás ficaram; se você não puder abençoar as vidas, então não abra a boca para amaldiçoar. Abra a boca para abençoar as pessoas.

 

A sutil violência facial

O terceiro tipo de violência que existe no lar é a violência facial. Violência facial. Quando a expressão facial tem o poder de um tapa na cara. Quando o sujeito enruga de certa forma o rosto, o filho já se põe a tremer, a mulher se cala porque sabem que por trás daquela expressão facial está um verdadeiro demônio que daqui há pouco vai começar a expelir as suas faíscas de violência. Não use as expressões faciais como uma arma, para massacrar pessoas, para maltratar as pessoas; use a sua expressão facial para sorrir, para mostrar o seu contentamento, a sua alegria, para mostrar o seu prazer em ter a pessoa do seu lado; mas quando você enrijece os músculos da face, usa mais de cento e tantos músculos para mostrar a sua ira e o seu desprezo, isto é prejudicial. Você machuca, você maltrata, você faz as pessoas sofrer. Há pessoas que conhecem realmente o que está no interior do outro só pela expressão facial. Quando lemos o Livro de Provérbios, encontramos ali que um coração alegre aformoseia o rosto [ [1] ]; a expressão de alegria traz realmente a aquilo que está no coração. Um coração alegre se exprime através de um ar alegre na face. Mas quando você enruga o seu rosto e mostra a sua violência, você está mostrando o que está no seu interior, você está mostrando aquele demônio que está lá dentro. é preciso cuidado; converta-se, procure viver em paz com todos, como diz a Bíblia, “busca a paz e empenha-te por alcançá-la”[ [2] ].

 

A violência religiosa

E existe em quarto lugar, dentro do lar, a violência espiritual. A violência religiosa. O que vem a ser este tipo de violência? O que é a violência religiosa dentro de uma casa? É quando a minha espiritualidade me faz sentir melhor do que todos. A violência do desejo honesto do outro. Veja bem o que é a violência espiritual, religiosa. É quando a minha espiritualidade me faz sentir melhor do que todos. Eu sou o santarrão, eu sou o puro, eu sou o melhor; aí eu quero fazer prevalecer a minha espiritualidade, quebrando a individualidade, quebrando justamente a simplicidade dos outros, quebrando, com toda a certeza, a liberdade que o outro precisa; porque quando eu quero impor a minha espiritualidade religiosa, você sabe que é o Espírito de Deus que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo [ [3] ]. É preciso que você entenda que não é você que converte a sua mulher, não é você que vai converter o seu marido, não é você que vai converter os seus filhos. Não são os filhos que vão converter os pais, mas o nosso bom exemplo, como diz a Bíblia, o bom procedimento, o exemplo da esposa é que vai ganhar o seu marido [ [4] ]. Mas não é eu querer fazer com que a minha espiritualidade sirva como um processo antagônico no meu relacionamento com a minha esposa, ou com os meus filhos. Não, absolutamente não. Eu tenho que orar por eles, tenho que mostrar o testemunho para eles, de tal forma que através do meu testemunho eles vejam e sintam Cristo em minha vida. Mas não tente impor a sua religiosidade. Não tente obrigar, não; não faça isso. É preciso que você use de amor, de carinho, para que essas pessoas vejam Cristo no seu coração. Então a violência espiritual, a violência religiosa, é quando eu olho para mim e me vejo como o único santo da terra. Como o mais perfeito do mundo. E agora eu começo a obrigar as pessoas a serem iguais a mim. Não, é preciso que você tenha sabedoria para mostrar Jesus Cristo às pessoas que o rodeiam.

 

Jesus viveu o perdão perfeito

Agora, agindo como o Cordeiro de Deus, com o perdão. Veja só, você pode perfeitamente estar machucado, estar sendo maltratado, violentado. Para Jesus o perdão era uma questão de sobrevivência. Jesus não foi aniquilado pela violência, Ele aniquilou a violência. Soube endurecer-Se sem perder a temperatura, a ternura. Jesus encontra força no perdão para vencer todo o tipo de violência. Você pôde observar que quando Jesus Cristo estava na cruz do Calvário, vendo aquela turba violenta ali embaixo, gritando, “crucifica-o, crucifica-o!”, e aqueles soldados com a lança que o transpassaram. Você imagina se você tivesse o poder que Jesus tinha, o poder de Deus que estava em Suas mãos, você imagina-O como criador do relâmpago, do trovão, dos raios, você acredita-O como criador dos terremotos, de todas as coisas, dos elementos da natureza: Ele podia naquele momento mandar um raio e destruir toda aquela geração, toda aquela raça que O estava ali maltratando. O próprio Deus poderia fazer isso, mas qual foi o relatório final de Jesus Cristo? Qual foi a palavra final do Senhor? Antes de expirar? No auge do sofrimento? Ele simplesmente declara: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!” O elemento que machuca, o elemento que maltrata, ele faz isso porque não sabe o que está fazendo. Porque se o homem tivesse o Espírito de Deus na sua vida, se o homem tivesse uma conversão genuína no seu coração, se o homem fosse realmente uma pessoa nascida de novo, ele teria a mente de Cristo, ele agiria como Jesus agiu, que nos momentos de revide, que precisava e podia revidar, não revidou. Ele não revidou. Ele sabia na hora de ser sério, ser sério, de ser duro, ser duro; mas isso sem pecar, sem atingir ninguém, sem maltratar. Jesus, quando chegou ali naquele local em que estavam os vendilhões, que Ele virou a banca dos cambistas, você vê o que Ele disse? “A minha casa será chamada casa de oração, para todos os povos [ [5] ]; o zelo da tua casa é que me consome [ [6] ].” Então verifique como são, como é que Ele faz as coisas. Nós precisamos entender isso, meu querido irmão, querido amigo.

 

O perdão é a arma mais poderosa que nós temos contra Satanás. Sabe por que? Porque Satanás usa a violência. E você usa simplesmente o amor. E as armas do amor, elas são invencíveis. Como também armas do perdão são invencíveis. E quando partem de um coração cheio de amor, então muito mais. É preciso que você absorva e entenda que, se você quer ser feliz na vida, aprenda a perdoar. Aprenda a perdoar. Assim como você sabe desculpar alguém na rua, você pode aprender a desculpar alguém dentro de casa. Ali estão os seus, são pessoas que Deus colocou para você zelar por elas. São pessoas que Deus colocou à sua inteira disposição. Precisamos entender isso perfeitamente.

 

Lendo os Evangelhos nós observamos que Jesus não foi aniquilado pela violência, pelo contrário, Ele aniquilou a violência. Soube endurecer-Se sem perder a ternura. Jesus encontra força no perdão para vencer todo o tipo de violência. Aprendemos com Jesus que muitas vezes, dentro de casa, a sobrevivência da oração em família só é possível com o perdão. Ah! Imagina só, você que vive num estado de guerra dentro de casa, que vive maltratando os outros, machucando sua mulher, sua esposa, como é que você tem cara de se ajoelhar e orar com a sua família? Hein? Você tem? Como é que você pode, com o coração cheio de ódio, com as pessoas que estão ali perto de você, todos aborrecidos, uma situação trágica, todos com desejo de ir embora, jogar tudo para o ar. E você tem coragem de chamar a sua família para orar, ainda? Não faça isso. Procure fazer da sua casa o melhor lugar do mundo, um lugar de refúgio contra os problemas lá de fora.

 

Um exemplo da vida atual

Alguns anos atrás fomos espectadores impotentes daquele tenebroso caso de seqüestro de um grande publicitário. O homem passou um tempo tremendo no cativeiro. Quando foi levado para casa, a primeira coisa que fez no seu carro, sabe o que foi? Curvar-se e deitar no colo da sua esposa. Que cena preciosa! Quantos dias de angústia, e não via a hora de correr para os braços da sua amada; ali está aproveitando a viagem, ainda deitado no colo da sua esposa. Faça do seu lar, faça da sua casa, faça da sua família, o melhor lugar do mundo, onde você se sinta ali como rei, mas rei que reina com paz. Como rei de Salém [ [7] ]. Procure viver na sua casa da melhor maneira, onde as pessoas se sintam bem com você. Quando você está chegando em casa, que as pessoas possam dizer com alegria, “lá vem o papai, o papai está chegando, a mamãe está chegando!” Infelizmente nem sempre é assim. Em muitos lugares, as pessoas chegam a dizer, “lá vem aquela praga chegando aí”. Não faça isso, procure viver em paz com todos. Com a sua família. Procure fazer da sua esposa a melhor mulher do mundo, procure fazer dos seus filhos as melhores pessoas da terra, procure fazer do seu lar um ambiente onde todos se sintam felizes. Acabe com esse negócio de andar com cara feia dentro de casa, acabe com esse negócio de enrugar o seu rosto, mostrando expressão de violência, de aborrecimento; mostre um sorriso, mostre alegria, mostre o prazer de estar ali com eles. E viva na paz, viva feliz, viva satisfeito.

 

Imite Jesus

 

O perdão foi o sentimento que ajudou Jesus a viver entre o caminho da cruz e o Paraíso. A Bíblia Sagrada nos diz, em Filipenses, que Ele aprendeu todas as coisas pelo sofrimento que experimentou [ [8] ]. Sofrimento são formas que Deus usa para nos levar à perfeição. Você sabia disso? Paulo, escrevendo aos romanos, ele declara que “a nossa leve e momentânea tribulação não é para se comparar com a glória que em nós há de ser revelada” [ [9] ]; não é para se comparar, não é possível. Os sofrimentos do tempo presente, ou seja, do nosso mundo aqui, da vida enquanto aqui estivermos, estão nos encaminhando justamente para a felicidade. Entenda isso, entenda o plano de Deus. Não se endureça, porque quanto mais você endurece, mais a vida fica dura para você. Quanto mais você semeia tempestade, mais tempestade você vai colher; quanto mais você plantar vento, mais vendaval vai colher. Procure viver em paz, semeie a paz. Promulgue a paz, viva a paz. Caminhe na paz. Isto é bom. Isso é maravilhoso. Muito bem.

 

Então, vencendo o peso da traição de Judas, da negação de Pedro, do abandono dos outros discípulos, da injustiça religiosa dos fariseus, da agressividade da multidão, o caminho da cruz era o caminho de dor, de aflição; quanto mais violentado, mais perdoador Ele se tornava; era como se Ele estivesse matando a violência com golpes do perdão. Cada pessoa que O machucava, cada pessoa que O maltratava, Ele sabia como perdoar. A maneira de você destruir justamente a violência é com o perdão. Ore por aquele que o persegue, ajuda aquele que o maltrata. A vida cristã não é fácil. Você orar por um adversário, você dar de comer àquele que o persegue? Meu filho, isso aí não é coisa fácil. Mas é coisa de crente. E crente salvo. Só crente salvo é que faz isso. Porque outros dizem logo: “Deixa aquela praga morrer de fome. Deixa aí, tudo o que ele fez por mim está pagando agora.” Não, filho, não diga isso. Aprenda a perdoar, vá lá, converse; aquela pessoa não tem a mente que você tem. Então você precisa saber realmente como fazer isso. O perdão também é a força que inibe a violência que há dentro daquele que exercita o perdão. Olhe bem: o perdão é a força que inibe a violência que há dentro daquele que exercita o perdão. Isso é magnífico, não é? O perdão é a oportunidade de reconstrução, de recomeçar, não é? Quantos maridos, quantas mulheres que vivem muitas vezes dentro do mesmo lar, do mesmo teto, mas um dorme num quarto e outro dorme no outro. Um mora num bairro, outro mora noutro. Nunca aprenderam a se perdoar. Nunca. “Não, eu convivo muito bem, mas ele lá e eu aqui.”

Nós construimos nossa adversidade

 

Não existem relações prontas; nós construímos e destruímos as nossas relações. Nossas relações não são destruídas por acaso. Sem perdão o processo de construção pára e se extingue. Se você não sabe perdoar, você nunca vai construir nada bom. Você nunca vai construir um relacionamento duradouro, a ausência de perdão não permite esse crescimento. Enquanto o ódio destrói, o perdão constrói. Quando o espírito de dissimulação existe na relação, o jogo de esconde-esconde, onde quem vence é aquele que é mais esperto para se esconder, veja só. Quando o espírito de dissimulação existe nas relações, prevalece ou subsiste o dissimulador. Você às vezes odeia uma pessoa, mas como você sabe dissimular, você dissimula e supera. Ah! Você não sabe o prejuízo que você está causando para você mesmo. Como no jogo de esconde-esconde, onde quem vence é aquele que é o mais esperto para se esconder; mas isso aí na realidade são coisas que vão acabar com a sua vida, que vão destruir a sua vida. O final de toda a competição e simulação é o ódio, olhe bem, hein? A fuga e a fragmentação de toda a família. Então veja só como as coisas vão caminhando. Não dissimule, amigo. Não dissimule. Se você tem raiva de alguém, você tem de tirar isso de dentro de você. É preciso, você não pode continuar assim. Não é porque você não vai responder com violência, mas também você não deve guardar isso dentro de você. A Bíblia diz que aquele que confessa e deixa alcança misericórdia; mas aquele que encobre a sua transgressão, esse nunca prospera [ [10] ].

 

Por que há muitas pessoas que não prosperam espiritualmente? Muitas pessoas não crescem espiritualmente, são entangüidos espirituais. Julgam saber alguma coisa, não sabendo nada. Por que não crescem? Porque escondem o seu pecado. Você sabe que ódio é pecado? E há pessoas que sabem dissimular muito bem, mas lá dentro estão se remoendo. O caminho também não é esse, não. Se você se interiorizar, você se machuca; e se você explodir, você machuca os outros. O negócio é você partir para a solução do problema. É quando você e a sua mulher, quando você e os seus filhos, você e aquele seu colega, em lugar de ficar um odiando o outro, olhar um com desconfiança para o outro, vocês interiorizam a questão; daqui há pouco, você já ouviu falar das doenças psicossomáticas? O seu corpo vai explodir de doenças. Porque você tem um ódio guardado, reservado, lá dentro. Mas se você exterioriza e explode, você machuca os outros, porque muitas vezes você vai querer explodir numa hora de raiva. Aí você vai dizer coisas que não deve. Qual é a solução? É partir para enfrentar e resolver a questão. É confessar e deixar. É confessar para aquela pessoa que você ofendeu, ou que está ofendida com você, e ambos partirem para uma solução do problema. Mas não ficar interiorizando, falando e comentando um ao outro.

 

O inesgotável “caso” Esaú-Jacó

Vamos analisar o que houve quando o perdão aconteceu entre Esaú e Jacó e se abriu a porta para reconstrução daquilo que fora destruído. Lembra-se do problema existente entre Jacó e Esaú? Como você deve saber, o nome de Jacó significa usurpador, suplantador. Ele enganou sua mãe, porque ela “foi na conversa” dele. Rebeca, por sua vez, para proteger o filho, enganou o marido. Jacó enganou o pai e passou o irmão dele para trás. Aquilo abriu um abismo familiar terrível, foi uma família que não teve paz, um irmão queria matar o outro; você pode imaginar o drama de uma mãe no meio dessa guerra toda? E de ver um filho que parte, que foge, porque o outro seu irmão queria matá-lo? Você pode imaginar quanto tempo Jacó viveu com medo do seu irmão? E quanto tempo Esaú viveu com ódio no coração? De ver que todos os seus momentos que poderiam ser bons para ele haviam sido destruídos pelo seu próprio irmão? É uma vida inteira, uma vida toda. Agora, quando o perdão aconteceu entre ambos, abriu-se a porta para a reconstrução daquilo que fora destruído. É o que eu digo para você nesse momento: se você está com raiva de alguém, se você tem ódio de alguém, você não é feliz e nem ela. Nem um dos dois são felizes. Existe um abismo entre ambos. Um não pode ver o outro, e quando se falam, falam-se normalmente com desconfiança. Para que você possa ser vencedor, para que você possa ser um vitorioso, para que você possa ter a felicidade na sua vida, você precisa quebrar esta barreira de separação, esta barreira que impede de você olhar para o seu amigo, para o seu colega, para o seu irmão –- esta barreira precisa ser destruída para que a sua felicidade seja construída, ou reconstruída. Pare com esse negócio de odiar. De maltratar, de machucar os outros.

 

Somos perdoados segundo o nosso perdão!

Você se lembra da história que nós lemos aqui no princípio? Do cidadão que devia aproximadamente dez milhões, foi perdoado, e depois não soube perdoar aquele que devia para ele cem reais? Colocou na cadeia, colocou na prisão. O que quer dizer isso? Se você analisar a sua vida, quantos pecados você já cometeu, quantas atrocidades você já fez na vida, quantos crimes você já realizou, quantos problemas você já causou, e quando você chegou aos pés de Jesus Cristo, Ele perdoou toda a sua dívida, Ele perdoou todo o seu pecado, Ele “zerou a sua conta”. Todos os seus problemas foram perdoados na cruz do Calvário. Tudo se acabou ali. O sangue de Jesus Cristo purificou-o de todo o pecado. E você foi perdoado de milhões de pecados. E agora não sabe perdoar aquela pequena ofensa da sua mulher? Do seu filho, ou do seu marido? Ou do seu vizinho, ou do seu colega, na empresa? Você quer o perdão de Deus e não quer perdoar as pessoas? Na oração do Pai Nosso, quando Jesus diz assim, ensinando-nos a orar, em certo trecho: “Pai, perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” [ [11] ]. Você notou aqui? Você observou que quem dita o tipo de perdão que quer é você? É você que dita para Deus o tipo de perdão que você quer? Você quer um perdão de Deus pela metade? Você quer um perdão de Deus integral? Você quer um perdão de Deus apenas em partes? Então veja o que diz o trecho bíblico: “perdoa as nossas dívidas, assim como, assim como” –– assim como eu perdôo a minha mulher, assim como eu perdôo o meu filho, assim como eu perdôo os meus colegas, assim como você perdoa o seu marido. Como é que você perdoa, hein?

 

Pois bem, então não ore a oração do Pai Nosso se você não puder perdoar e ter um perdão integral. Porque você está pedindo, “Pai, perdoa-me, assim como eu perdôo.” Se você está perdoando pela metade, Deus vai perdoá-lo também pela metade, porque quem dita o perdão é aquele que está perdoando. se você só perdoa pela metade, Deus vai perdoá-lo pela metade. Se você só perdoa em parte as pessoas, Deus vai igualmente perdoar você em parte. É você quem dita as ordens, é você quem dita a forma. Meu querido irmão, meu prezado amigo, viva feliz. Viva em paz com Deus e verifique que, quando o perdão aconteceu entre Esaú e Jacó, abriu-se a porta para a reconstrução daquilo que fora destruído. É isso que você tem de fazer.

 

Oração

Queremos neste momento orar com você. Ou melhor, orar por você. Você que tem tido alguma dificuldade em perdoar as pessoas, você que tem tido dificuldade em viver a vida cristã, esta vida na família, no lar; então nós queremos neste momento orar por você, para que essa barreira caia e você viva feliz. Ninguém pode viver feliz odiando alguém. Mas diz o escritor de Provérbios que “aquele que confessa e deixa alcança misericórdia”. Eu vou orar com você agora. Acompanhe-me na leitura, em atitude de oração. Amado Deus e Pai, eu Te peço nesse momento, querido Deus, que Tu dê forças a esse meu querido irmão, a este prezado leitor da Palavra de Deus, que nos vem acompanhando ao longo destas páginas. Que o Teu Santo Espírito dê força, dê sabedoria, dê poder para ele para viver uma vida realmente cristã, uma vida abundante, como diz a Tua Palavra, que Tu, Senhor, vieste para nos trazer vida, e vida com abundância, e é esta vida que nos queremos, Pai! Ajuda-nos a prosseguir fazendo a Tua santa, eterna e doce vontade. No precioso nome de Jesus é que nós Te pedimos e agradecemos. Amém.

[ [1] ] Provérbios 15:13.

[ [2] ] Salmos 34:14.

[ [3] ] João 6:8.

[ [4] ] I Pedro 3:1.

[ [5] ] Isaías 56:7.

[ [6] ] Salmos 69:9.

[ [7] ] Hebreus 7:2.

[ [8] ] A expressão sintética desse aprendizado está em Hebreus 5:8-9; Mas Filipenses 2 e 3 são muito instrutivos.

[ [9] ] Romanos 8:18, com “reflexos” de II Coríntios 4:17.

[ [10] ] Provérbios 28:13.

[ [11] ] Mateus 6:12.