19 3234 9317 ibicamp@ibicamp.com.br

SOLDADO FERIDO

De que se trata?

Presumo que esta mensagem tenha um título e aborde um tema não usuais, e sua base bíblica acha-se no salmo quarenta e dois. Mas eu creio que esta palavra é um verdadeiro brado de alerta para todas aquelas pessoas que Deus tem chamado para o ministério, e que têm sido realmente usadas nas Suas mãos. Você sabe que quando um crente fracassa e cai, na verdade, por mais doloroso que isso seja, é apenas uma pessoa que cai; mas quando uma pessoa que está na linha de frente, seja um pastor, um obreiro, um líder, e essa pessoa cai, o impacto torna-se muito forte, porque praticamente atinge todo o rebanho. Jesus mesmo declarou que, atingido o pastor, as ovelhas se dispersarão [ [1] ]. De modo que uma das coisas mais preciosas que precisamos ter na vida é justamente o cuidado com nossa vida espiritual, ministerial, familiar. O obreiro do Senhor precisa estar atento às ciladas do maligno.

 

Tempos atrás eu estava no Rio de Janeiro, quando soubemos que um grande obreiro tivera dois deslizes na vida, um logo após o outro. Nessa ocasião, conversando com o Pastor José Santos, que é o sogro do Pastor Silas Malafaia, lembro-me de haver-lhe perguntado: “Pastor Santos, quando um rapaz, uma moça, ou qualquer irmão na fé está com problemas em sua vida espiritual, e vêm até nós, como pastores, e expõem os seus problemas, nós normalmente os orientamos: filho, leia mais a Bíblia, procure orar mais, procure ocupar mais o seu tempo com as coisas de Deus!” Então perguntei ao Pastor Santos:  “E quando um homem destes fracassa, qual a recomendação que devemos dar?” Ele olhou-me longamente e disse: “Pastor Jorge, vigiar! O dom da vigilância é tão importante como qualquer outro dom, na vida de um cristão e, principalmente, na vida de um obreiro”. A vigilância foi a recomendação dada por nosso Senhor Jesus Cristo, vigiai e orai, para que não entreis em tentação [ [2] ]. Quem está em pé olhe, para que não caia [ [3] ]. Porque é triste você ver a situação do homem que um dia esteve na linha de frente, esteve lá no alto, nos púlpitos, pregando, exortando o povo, e de repente cai, deploravelmente. É de fato muito triste.

 

O infortúnio de um salmista

Quero que você abra a sua Bíblia neste momento no salmo quarenta e dois. Mesmo que o texto esteja transcrito, é sempre útil você abrir a sua própria Bíblia e conferir um com o outro. Vamos meditar numa dessas situações de queda, que entretanto a Bíblia não deixa muito claro a que se refere. Mas nos permite supor ou compreender o que deve ter acontecido com este homem. O salmo quarenta e dois inicia dizendo: Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim por ti ó Deus, suspira a minha alma. Você vê, aqui, o anseio deste personagem, deste salmista que pertencia à família de Coré. Repetindo, ele está dizendo, como suspira a corça pela corrente das águas, assim por ti, ó Deus, suspira a minha alma. Você sabe que quando uma corça está com sede, ela levanta suas narinas para o ar e fica praticamente cheirando o ar, para captar qualquer vislumbre de água, ou até mesmo de chuva, tentando descobrir em que direção se acha água; e ela, depois que descobre, ou qualquer coisa assim, parte naquela direção. Vai em busca, e só descansa, só pára, quando encontra realmente a água para saciar a sua sede. Esta é a figura que o salmista está aplicando a si próprio. “Assim como a corça que suspira pela corrente das águas, assim também a minha alma suspira por ti, ó Deus, a minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo! Quando é que eu irei e viverei perante a face de Deus?” Nós não sabemos o que foi que aconteceu com este homem. Você sabe que um sacerdote do Antigo Testamento podia começar o seu ofício aos trinta anos de idade, mas teria de se aposentar ou entregar o cargo, aos cinqüenta [ [4] ]; depois, com a carência de sacerdotes, Deus permitiu que o sacerdócio começasse aos vinte e cinco anos, mas terminasse aos cinqüenta [ [5] ]; por fim, com muita dificuldade, Deus permitiu que o sacerdócio começasse a ser exercido a partir dos vinte anos –– mas sempre teria de terminar aos cinqüenta. Então havia um prazo para aposentadoria, de sorte que o ocupante desse cargo, quisesse ou não, teria de deixar as suas funções de sacerdote. É diferente do sacerdote de hoje, quando o sacerdote ou ministro vai até sessenta, setenta anos e mais. Enquanto tiver força, vai em frente. Isto se deve ao fato de que naquele tempo o sacerdote tinha de pegar um novilho, ou uma ovelha, pelos chifres, e amarrá-lo; era um trabalho bruto, braçal, para colocar o sacrifício em cima do altar –– era preciso bastante força física. E por isso tinha de se aposentar aos cinqüenta anos de idade, para depois não passar pelo vexame, em pleno altar, de não poder segurar ou sustentar o novilho, o boi, enfim, o que o ofertante entregasse para ser oferecido no altar.

 

Qual a possível razão?

Mas tudo indica que o caso deste nosso cidadão do salmo quarenta e dois não se tratasse de uma questão de aposentadoria, mas de uma questão que desconhecemos. Quem sabe, de pecado? Teria sido um pecado na vida deste homem que o afastou da vida ministerial? A Bíblia também não declara se ocorreu uma injustiça, e alguém o colocou para fora do ofício, tirando-o do quadro de obreiros que cumpriam os turnos do sacerdócio. Eu só sei de uma coisa: é que este homem estava distante do ofício sacerdotal. Tratava-se de uma pessoa que estava acostumada à presença do Senhor, tendo por funções oferecer sacrifícios a Deus em favor do povo. Este homem que tinha naturalmente uma comunhão e um contato direto com Deus, de repente o encontramos aqui, proclamando em íntimo desalento: “Assim como a corça suspira pela corrente das águas, assim a minha alma suspira por ti, ó Deus. Ela quer a tua presença, a minha alma tem sede do Deus vivo, quando é que eu irei e viverei perante a face de Deus? Quando é que eu vou retornar, quando é que eu vou voltar àquele meu sagrado ofício de subir num púlpito e ministrar ao povo de Deus a mensagem do Evangelho? Quando é que eu vou voltar a interceder pelo povo?” E confirma então o versículo três: “As minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite, enquanto me dizem continuamente, o teu Deus, aonde está?”

 

Tentando interpretar o sofrimento do autor

Que tristeza, irmão! Que momento trágico esse, na vida de um homem! Um homem que muitas vezes subiu num púlpito, o homem que muitas vezes agarrou um bezerro pelos chifres, amarrou-o e colocou em cima do altar do sacrifício, imolou e levou o sangue até o Santo dos Santos, suprema oferta de expiação, segundo a Lei. Quantas vezes esse homem fizera isso com muito carinho, com muito cuidado, com muito zelo, com muito amor! Mudando para a Era da Graça, quantas vezes obreiros têm subido no púlpito e dizem, ungidos, “Assim diz o Senhor!”, e entregam ao povo a Palavra, com eloqüência, com veemência, com autoridade, que Deus tem poder para remover as montanhas, Deus tem poder para abrir o Mar Vermelho e ver o seu povo passar a pé enxuto, Deus tem poder para fazer da rocha brotar água para o povo saciar a sua sede, que Deus tem poder para conduzir o Seu povo durante quarenta anos pelo deserto, este Deus que criou os céus e a terra, que é o meu Deus, é o Deus que nós pregamos! E subitamente este homem está fora do seu ofício…! E alguém chega zombeteiramente e pergunta: “Onde está o teu Deus?  Onde está aquele Deus sobre Quem você tanto pregou? Onde está aquele Deus que você diz que é poderoso para fazer infinitamente mais do que você pede ou daquilo que você pensa, hein? Onde está?

 

Que fazemos quando o irmão obreiro cai?

Esse grupo de zombeteiros está em toda a parte: quando vêem um soldado ferido, quando vêem uma pessoa moribunda no campo de batalha, que está ali praticamente vencido e derrotado. Não sabemos realmente qual foi era a situação deste servo de Deus retratado no salmo quarenta e dois, mas ele estava ferido, afastado do seu ofício, exatamente marginalizado. Que nos cabe fazer? Irmãos, é neste momento que nós precisamos interceder. Que precisamos orar, que precisamos visitar, é nesta hora que aquele servo de Deus que conduziu centenas de almas para a Eternidade, é nesta hora que ele precisa do nosso apoio! Mas quase nunca agimos assim. Porque quando um obreiro cai, nós pensamos que ele contraiu a mais furiosa enfermidade contagiosa imaginável, ficou leproso, ficou aidético, ninguém pode mais se aproximar dele ou com ele conversar; deixamos às vezes o homem morrer à míngua, sofrendo calado, pessoa que um dia deu conselhos, deu orientação segura, pessoa que um dia levantou vidas, ajudou muitos a serem transformados, restaurou casamentos, restaurou famílias, contribuiu para resgatar enfim a vida familiar, social e até política de muitas pessoas. Agora, por um deslize na vida, está isolado, confinado a uma casinha e em sofrimento, por que? O que foi que aconteceu? Um deslize pode tê-lo levado a sair do púlpito? Um pecado pode tê-lo afastado do ministério? Mas não foi porque se afastou do ministério que o vamos agora abandonar e ficar como esse grupo que dizia, num misto de zombaria e provocação: “O teu Deus, onde está? Onde está aquele Deus que você tanto pregou, agora prostrado neste leito de enfermidade, reduzido a esta situação paupérrima, neste quadro tão lamentável, onde está aquele Deus você pregava com tanto entusiasmo?” É triste, irmão querido!

 

A orientação: vigiar!

É por isso que eu estou dizendo neste momento: obreiro do Senhor, vigie! Você pode amar todas as ovelhas do seu aprisco, mas preciso lembrar que nem todas as ovelhas amam o seu pastor! Na primeira investida que experimentarem eles podem dispensar e mandar embora o pastor. Existe sempre aquele grupo de Sambalá e Tobias [ [6] ], que está em toda a parte, pronto a dar o bote, a dar o coice a qualquer momento, pronto a mandar você para bem distante. Mas se Deus é por nós, quem será contra nós? [ [7] ] Você precisa manter-se na presença de Deus! Vigie, cuide da sua família com carinho e com amor, ame os seus filhos e a sua esposa, ame o rebanho e procure fazer a obra de Deus da melhor maneira possível; mas, acima de tudo, mantenha o dom da vigilância na sua vida!

 

Mantenha-se vigilante. Porque o caminho para cair é estar em pé. Quem está em pé olhe para que não caia. É o que diz a Bíblia [ [8] ]. Obreiro do Senhor, não brinque! Não facilite! O adversário não dorme, ele está sempre à espreita, como leão que vive rugindo [ [9] ], querendo tragar; surgiu a oportunidade, ele penetra, e o escangalho é grande! E depois, que situação drástica, terrível! Que situação!

 

Recapitulando: quem era mesmo o salmista?

Você pode observar no nosso texto básico que este homem era um líder do povo de Deus, daqueles líderes de grande potencial. Este salmista, da família de Coré [ [10] ], cujo nome a Bíblia não menciona, era realmente uma pessoa de linha de frente. No versículo quatro ele fala de sua saudade, daquilo que ele fazia, “lembro-me dessas coisas  e dentro de mim se me derrama a alma, de como passava eu com a multidão de povo e os guiava em procissão à casa de Deus, entre gritos de alarido e louvor, multidão em festa!” Veja só que coisa! Quem era este homem? Lembro-me destas coisas, e dentro de mim se me derrama a alma, de como passava eu com a multidão de povo e os guiava em procissão à casa de Deus! Era ele quem guiava a multidão, guiava o povo em procissão para a casa de Deus! Era ele que conduzia o povo para o louvor e para a glória do nome do Senhor! Era um líder espiritual autêntico, alguém realmente que estava realizando um trabalho extraordinário para Deus e a Sua obra. Era realmente alguém relevante; mas agora esse homem vivia de saudades, de lembranças daquele passado; as lembranças eram o seu consolo naquela triste situação.

 

Lembrando fatos da vida atual

Alguns anos atrás eu estava trabalhando numa localidade no interior do Brasil, e ali, em certa igreja, contávamos com um pastor que era uma potência nas mãos do Senhor. Era um homem realmente extraordinário. Passados uns tempos, esse homem enfrentou um problema muito sério; teve uma grave dificuldade na vida e foi realmente destituído da sua vida ministerial. Foi-lhe tirado o seu pastoreado, porque realmente não tinha condições de prosseguir na vida ministerial. Os anos foram-se sucedendo. Um dia cheguei a outra cidade, onde estávamos realizando uma grande cruzada em praça pública, onde uma grande multidão se reunira e estava ali louvando a Deus. Numa das esquinas dessa praça havia um posto de gasolina; e quando olhei para o frentista que estava ali, em pé, encostado à bomba de gasolina, esperando um cliente, eis que eu olhei, e quem era esse frentista? Justamente aquele pastor, aquele pastor que fora líder de uma grande igreja e de um grande rebanho, mas que, por falta de vigilância, estava agora ali como frentista, num simples posto de gasolina de uma modesta cidade do interior. Aquele homem encostado naquele lugar olhava para o púlpito, olhava para a multidão e naturalmente se lembrava que um dia ele estivera defronte de um púlpito como aquele, dirigindo a palavra, pregando para a multidão; mas devido à sua falta de vigilância, estava agora ali, como um obscuro frentista…

 

Uma recomendação fraternal

Irmão querido, vigie. Vigie, não brinque com coisa séria, não facilite. Mantenha os seus olhos fitos, sabe em quem? Na sua esposa, na sua mulher; trabalhe, sabe com que? Com o seu dinheiro, com o dinheiro que custou o suor do seu rosto; trabalhe com aquele dinheiro que você ganha, nunca procure colocar o pé aonde os seus passos não alcancem, procure colocar o chapéu onde sua mão possa chegar posteriormente. Mantenha a vigilância! Você, querido pastor, que tem o seu gabinete pastoral, nunca entre com uma jovem numa sala de portas trancadas, nunca se encerre com uma mulher em seu interior. Você pode ter confiança em você, alegar que conhece a si mesmo, mas a Bíblia manda você se afastar da aparência do mal [ [11] ]. Livre-se da aparência do mal, livre-se e livre outros, porque você é homem também, e como homem você é suscetível a cair. E pense neste momento o que seria de você sem o seu ministério, o que seria da sua vida sem os seus afazeres ministeriais, o que seria de você sem ser um pregador do evangelho!

 

Pois nós encontramos aqui este homem, este salmista, lamentando justamente sua situação, porque havia sido um líder espiritual muito forte, como ele mesmo diz, quando passava eu com a multidão de povo, e os guiava em procissão à casa de Deus, entre gritos de alegria e louvor, multidão em festa! E agora este homem contempla-se aqui, imerso em seu saudosismo; não estava mais exercendo o seu ofício, fora afastado da sua atividade ministerial, vivia simplesmente recluído e pensando, “quando é, ó Senhor, que eu vou voltar?” Mas acima de tudo, meu querido irmão, não é apenas a perda de uma posição ou de um cargo ministerial: é justamente o drama interior que a pessoa passa a sofrer. A situação terrível que aquele que caiu passa a viver. Aqui no caso do salmista o versículo cinco mostra a depressão que este homem estava vivendo, revelando justamente a triste situação de uma vida que um dia fora frutífera, mas está hoje como um galho cortado e jogado, desprezado, ao lado da árvore.

 

Num doloroso contraste cheio de inquietação e esperança, ele pergunta: Por que estás abatida, ó minha alma, por que estás abatida, ó minha alma, por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a Ele, meu auxílio e Deus meu! A depressão profunda com que esse homem passou a conviver não é para menos! Uma pessoa que exercia indelével influência na sua geração, um homem que era líder espiritual consagrado e reconhecido, de repente está colocado de lado; além da saudade dolorosa que lhe machucava a mente, além das lembranças da época áurea da sua vida, que pareciam aumentar suas feridas, ainda sobrevem agora esta depressão espiritual!

 

O fio de esperança

É isto que acontece com a vida daquela pessoa que um dia esteve realmente liderando o povo de Deus e, repentinamente, soçobra. Quantos obreiros, que um dia estavam no púlpito, e hoje estão sentados no banco de uma igreja. Muito bem! É salvo, está esperando Jesus, tem o seu pecado perdoado, mas infelizmente o seu deslize o deixou sentado num banco. E você consegue imaginar o que isso pode causar na sua vida, que depressão essa situação adversa pode trazer ao ser  humano, a angústia que lhe pode acometer? É como ele declara aqui no versículo cinco: Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas, dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a Ele, o meu auxílio, e Deus meu. Ainda existia uma réstia de esperança, ainda existia uma luz, lá, no fundo do túnel; ainda persistia a confiança em um Deus que é misericordioso e compassivo! [ [12] ] Os homens muitas vezes são impiedosos, mas a misericórdia do Senhor são as causas de não sermos consumidos [ [13] ]. Este homem, apesar da sua vida espiritual lá em baixo, apesar da depressão profunda, apesar dos ferimentos que estava vivendo nessa hora, possivelmente abandonado por tudo e por todos, deixado praticamente à míngua, como o cão ferido que fica lambendo as suas feridas, jogado completamente fora… Diz alguém que é o exército deste mundo que deixa os seus soldados feridos para trás [ [14] ]. Irmão querido, é nessa hora que você tem de se segurar em Deus, na Sua misericórdia, na Sua bondade.

 

Será o seu caso?

Prezado irmão, talvez seja essa a sua situação, você que um dia foi professor na escola dominical, ou foi diácono na sua igreja, quem sabe um presbítero na sua congregação; alguém, enfim, que exercia uma atividade significativa e reconhecida, mas de repente perdeu o seu cargo e se viu excluído; por isso está vivendo agora um drama, semelhante ao que vivia este salmista. Mas é exatamente nesta hora, é nesta hora que da fraqueza você precisa tirar força, como o salmista aqui fez, instando consigo próprio, espera em Deus, espera em Deus pois ainda o louvarei, a ele,  meu auxílio e Deus meu! É Nele que está depositada a nossa confiança, é Nele que está depositada a nossa esperança, é no Senhor Jesus que deve estar segura a  nossa fé. Você pode estar ferido agora, mas com toda a certeza existe um Deus que o está vendo e observando, e conhece a sua necessidade!

 

A rota da queda

O salmo quarenta e dois é o salmo do soldado ferido. Encontramos hoje realmente muitos soldados que estão feridos, no campo de batalha, mas a lição deste salmista nos leva justamente a uma reflexão profunda sobre aquilo de que precisamos. O versículo sete sugere alguma coisa do que aconteceu na vida dele. E a lição a tirar é o apelo à nossa vigilância. Ele diz: Um abismo chama outro abismo, ao fragor das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim. Contudo o Senhor durante o dia me concede a sua misericórdia, e à noite comigo está o seu cântico, uma oração ao Deus da minha vida. Um abismo chama outro abismo. Todos nós sabemos disso. É um pecadinho aqui, uma concessãozinha ali, um deslisezinho acolá, e um abismo vai chamando outro abismo, vai chamando outro abismo, ao fragor das suas catadupas. Conclusão: daqui há pouco, as vagas e ondas começam a passar por cima do homem, que pode muito bem se sentir como Jonas no fundo do mar, no interior do grande peixe [ [15] ], ondas por cima, pegajosas algas por baixo, enredando-o, no estômago do animal marinho; mas mesmo assim há um raio de esperança, onde quer que o homem se encontre. Você cometeu um deslize? Houve um problema? Cair é do homem, o levantar é de Deus [ [16] ]. Mas este homem, mesmo nessa situação aflitiva, a sua confiança em Deus continuava. Contudo, o Senhor, durante o dia, me concede a Sua misericórdia e à noite, comigo está o Seu cântico, uma oração ao Deus da minha vida. Não se dê por vencido, não se dê por derrotado, o inimigo quer muitas vezes esmagar a sua cabeça, acusando, maltratando, machucando, para que não lhe restem ânimos para se levantar. Mas eis o que diz aqui está o salmista, falando no versículo nove: Digo a Deus, minha Rocha, por que te ouvidaste de mim? por que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos? Esmigalham-se-me os ossos, quando os meus adversários me insultam, dizendo e dizendo, o teu Deus, onde está?

 

Deus não abandona a Sua criatura

Onde está, presbítero, diácono, professor da escola dominical, onde está, obreiro do Senhor, aquele Deus que você tanto pregou e que agora parece havê-lo abandonado, deixado ou largado? Não, meu amado irmão, uma coisa você pode ter a certeza: pode quem quer que queira abandoná-lo, pode até a mãe abandonar o filho [ [17] ], mas contudo, diz o Senhor, Eu não te deixarei e nem te desampararei [ [18] ]: a presença de Deus é constante em sua vida. É tribulação que você está passando? Isto traz angustias terríveis! Leia o salmo quarenta e seis, onde declara que Ele é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na hora da angústia. É socorro presente na hora da angústia! É nesta hora, preciosíssima hora, que Ele Se faz mais presente. É neste instante que Ele está aí perto de você, é nesta hora que Ele Se encontra bem aí junto de você. Esmigalham-se os ossos quando os meus adversários me insultam, dizendo e dizendo, o teu Deus, onde está? É triste, irmão! É triste, amigo! É lamentável a situação de uma pessoa que estava lá em cima e agora está servindo ali, como diz a Bíblia Sagrada, do sal quando perde o sabor, que só presta para ser lançado fora e ser pisado pelos homens [ [19] ]!

 

A dramática experiência de Davi

E o que fazer? Infelizmente, na sua falta de vigilância, permitiu que o sal perdesse o sabor, e agora fica pisado; não deve acontecer isso, mas infelizmente o mundo dos homens é este, é impiedoso! Lembra-se quando Davi levantou o censo, em virtude do que acabou pecando gravemente naquela ocasião, e o Senhor disse a Davi: “Você vai escolher aqui três coisas, uma de três coisas: um período de fome na nação, ser perseguido pelo seu inimigo, ou cair nas mãos de Deus. Respondeu Davi naquele momento: “Caia eu na mão de Deus, e não dos meus inimigos!” [ [20] ] Por que? Porque o inimigo é impiedoso, mas Deus é misericordioso! Na primeira espadada que o anjo deu em Jerusalém naquela ocasião, por causa do pecado de Davi, setenta mil homens morreram, setenta mil pessoas perderam a vida naquela situação. E na mesma hora Davi levantou a mão e pediu misericórdia: “Fui eu que pequei, Senhor, e não o povo” [ [21] ], e naquela mesma hora a espada caiu de lado, e a misericórdia de Deus fez-se aí presente. É isso, irmão.

 

A solução do próprio salmista, receitada à sua alma

Os homens vão continuar em cima, “onde está o teu Deus, onde está o teu Deus?” Mas eu quero que você observe aqui o ponto final deste versículo, onde o salmista dá uma verdadeira aula de terapia para você: Porque estás abatida, ó minha alma, por que te perturbas dentro de mim, espera em Deus, espere em Deus, a sua solução agora é ficar quieto e esperar em Deus [ [22] ], pois ainda o louvarei, a Ele, o meu auxílio, e Deus meu. Espera em Deus. Por que estás abatida, ó minha alma? Não deixe, querido irmão, não deixe, querido obreiro, não se deixe abater pelos problemas que estão vindo sobre a sua vida; não caia em depressão, não permita que o desânimo tome conta da sua vida, mas acate neste momento aqui a orientação e o conselho deste salmista, que passou por um problema tão difícil na vida espiritual –– mas ele termina dizendo: “Por que estás abatida, ó minha alma, por que? Por que estás abatida?” É claro que você está ferido, é claro que você está numa situação difícil, é claro; mas como diz aqui, “espere em Deus, pois ainda O louvarei”. É nesta esperança que você deve se segurar, é nesta confiança que você deve se manter. “Espero em Deus, pois ainda O louvarei, a Ele, meu Deus e auxílio meu.” Segure-se, irmão, segure-se. Você está ferido? Você está posto à parte? Você foi colocado no isolamento ou na solitária espiritual? Não fique olhando para os homens, não fique aborrecido com eles, não; mas como diz aqui o salmista, espere em Deus. É Nele que está a nossa saída, é Nele que está a nossa solução.

 

E você sabe o que foi que aconteceu com este salmista? Você quer saber, não é, porque terminou o salmo e nós ignoramos o que aconteceu com ele. Termina a sua oração, a sua súplica e a sua orientação para nós, mas nós gostaríamos de saber: “Pastor Jorge, o que foi que aconteceu com esse salmista? Será que ele foi restaurado e reconduzido ao seu posto, à sua posição? Ele que havia sido afastado do templo, colocado para fora dos átrios do Senhor? Ele que talvez fora proibido de entrar na casa de Deus? E estava lá no seu isolamento espiritual, praticamente sofrendo as suas feridas?”

 

Restauração!

Vamos ver o que a Bíblia pode nos esclarecer.  Dê um pulinho agora no salmo oitenta e quatro, e verifiquemos o que foi que aconteceu com este salmista. Olhe só o que sucedeu com este salmista, no salmo oitenta e quatro. Você quer saber? No cabeçalho desse salmo está a identificação: Ao mestre de canto, segundo a melodia, Os Lagares. Salmo dos filhos de Coré. É a mesma origem do salmo quarenta e dois. Ele está aqui no oitenta e quatro. E diz aqui: Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos! A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor, e o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo! O pardal encontrou casa, a andorinha ninho para si onde acolha os seus filhotes; eu, os teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu! Aleluia! É justamente a restauração deste homem, a recondução dele ao templo; ele volta aqui neste salmo, justamente, a freqüentar os átrios em que ele tanto viveu, tanto trabalhou, e em que tanto ministrou! E ele explode de gozo aqui neste retorno: Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos! A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor! Por uma injustiça, um pecado, ou um problema, ele foi afastado do púlpito; mas aqui está ele de volta, entrando no templo, vendo a maravilha da casa de Deus, aquilo que Deus, com toda a certeza, estava fazendo na sua vida, restaurando um homem ferido, um soldado ferido, um homem caído! O cair é do homem, mas o levantar é de Deus! O levantar é de Deus! É Deus Quem nos levanta!

 

[ [1] ] Mateus 16:31 (Marcos 14:27), explícita referência a Zacarias 13:7.

[ [2] ] Lucas 22:40, 46.

[ [3] ] I Coríntios 10:12.

[ [4] ] Números 4:23.

[ [5] ] Números 8:24-25.

[ [6] ] Neemias 2:19.

[ [7] ] Romanos 8:31.

[ [8] ] I Coríntios 10:12, II Pedro 3:17

[ [9] ] I Pedro 5:8.

[ [10] ] Números 26:9-11.

[ [11] ] I Tessalonicenses 5:22.

[ [12] ] Exatamente desta forma, só três ocorrências na Bíblia: II Crônicas 30:9, Salmos 103:8 e Joel 2:13.

[ [13] ] Lamentações 3:22.

[ [14] ] I Samuel 30:11-15.

[ [15] ] Jonas 2:1-9.

[ [16] ] Salmos 37:24, combinado com 145:14.

[ [17] ] Salmos 27:10, Isaías 49:15.

[ [18] ] Na terceira pessoa, Deuteronômio 31:8.

[ [19] ] Mateus 5:13.

[ [20] ] II Samuel 24:10-14.

[ [21] ] II Samuel 24:17.

[ [22] ] Lamentações 3:26.