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A SENSIBILIDADE ESPIRITUAL DE NEEMIAS

Neemias, precioso livro pouco reconhecido

Muitas pessoas, que amam a Palavra de Deus, vêem o Livro de Neemias como a história da reconstrução dos muros de Jerusalém. Apenas um incidente. Mas à medida que deixamos de lado preconceitos e antipatias gratuitas e passamos a estudar o que contém, verificamos como são preciosas as suas páginas, de ensinamentos, lições e reflexões. Como toda a Bíblia, a propósito, também Neemias é um poço inesgotável de revelações sobre a vida do povo de Deus, sendo preparado para a bendita Era da Graça. Por esse motivo vamos abrir a Bíblia Sagrada no Livro de Neemias. Ele está no Antigo Testamento, logo após os livros históricos de Reis, Crônicas e Esdras; em seguida, Neemias. Vamos começar aqui no capítulo primeiro. As palavras de Neemias, filho de Hacalias. No mês de quisleu, no ano vigésimo, estando eu na cidadela de Susã, veio Hanani, um de meus irmãos, com alguns de Judá; então lhes perguntei pelos judeus que escaparam, e que não foram levados para o exílio, e acerca de Jerusalém. Disseram-me: os restantes que não foram levados para o exílio e se acham lá na província estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas, queimadas. Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus. Que Deus, na Sua infinita bondade, abençoe os nossos corações face à leitura da Sua santa palavra.

 

Um breve diagnóstico do povo hebreu

Estamos aqui diante de um quadro aterrador. Você sabe que neste mundo o povo judeu é um povo odiado praticamente por todas as nações. É um povo que praticamente vive isolado no mundo; quando você lê o Livro do Profeta Zacarias, você encontra ali Deus dizendo, farei de Jerusalém um cálice de tontear para todas as nações da terra [|[1]|]. Por que isso? Porque sem dúvida alguma o povo de Israel foi o povo escolhido para conduzir os oráculos divinos neste mundo [|[2]|]. São eles os porta-vozes de Deus aqui na terra. Através deles vieram os patriarcas, através deles vieram os profetas, através do povo judeu veio a Bíblia Sagrada, através do povo judeu veio Jesus Cristo e foi por intermédio do povo judeu que a igreja surgiu na face da terra. E diz a Bíblia que a salvação vem dos judeus [|[3]|]. Não é à toa que este povo é odiado. Não é à toa que as nações querem riscar Israel da face da terra. Por trás de tudo isso há um processo diabólico para não apenas riscar Israel do globo terrestre; na verdade, o que eles querem mesmo riscar é o nome de Deus. O problema de Satanás não é contra os judeus, é contra Deus. É contra a Escritura Sagrada, é contra Jesus Cristo. E por isso ele já tentou muitas vezes destruir esta nação, acabar com este povo: levou para o cativeiro da Assíria, inicialmente, e as tribos do Norte foram espalhadas através da Assíria; em seguida tomaram os próprios assírios e povos de outras nações da terra e povoaram a região antes habitada pelas tribos do Norte. Daí surgiram os samaritanos; eles riscaram a identidade das tribos do Norte. Restaram apenas as tribos de Judá e de Benjamim, e essas duas tribos, cento e poucos anos depois, foram também levadas para o cativeiro, desta feita na Babilônia; e foram levadas em três etapas, como a Bíblia relata. Na primeira leva de cativos seguiram Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Nessa oportunidade os invasores conduziram apenas a elite, os nobres, aqueles que tinham ascendência de sangue real; depois, na segunda leva, transportaram grupos de operários, de pessoas que tinham uma função ou ofício; por fim carregaram tudo aquilo que podiam levar de Israel: assolaram o resto da nação, saquearam e queimaram Jerusalém, e com ela o templo, destruíram os muros que protegiam a cidade –– enfim, a tendência era apagar Israel do mapa, era eliminar a memória de Israel da face da terra.

 

O cativeiro e sua causa foram previstos muito antes de ocorrer

Foram levados para o cativeiro babilônico e lá ficaram. Deus falara através de Jeremias que o tempo do cativeiro seria de setenta anos [|[4]|]. Setenta anos devido a uma desobediência muito grande dos judeus, porque Deus havia dito que eles trabalhassem a terra seis anos e a fizessem descansar no sétimo [|[5]|], e eles passaram aproximadamente quatrocentos e noventa anos roubando o sábado do descanso da terra; então Deus pegou esses setenta anos que eles usurparam e os converteu em cativeiro, e a terra pôde recuperar-se dos seus sábados. E nós observamos como é que o plano de Deus vai se desenvolvendo, sem que coisa alguma o  possa obstar.

 

As funções e o caráter de Neemias

E enquanto estavam na Babilônia, depois de algum tempo de cumprido o prazo da profecia, lá pelo final daqueles setenta anos, Deus começou a movimentar o coração de certos homens. Daniel, que nessa altura dos acontecimentos estava com os seus oitenta e quatro anos de idade (pois tinha sido levado para o cativeiro mais ou menos com catorze anos), ele sabia que estava chegando ao final [|[6]|]. Lá na Província de Susã estava um outro judeu que também tinha sido levado para o cativeiro, e você sabe que o judeu, aonde ele chega, ele procura conviver pacificamente com todas as pessoas, com todos os povos; ele procura viver na maior harmonia possível. Não era diferente desde o princípio, e podemos observar que na Província da Babilônia eles edificaram as suas casas, plantaram, cresceram, ocuparam funções públicas [|[7]|]; e Sabe porque Neemias era um hmmem de sensibilidade espiritual! Porque.. uma das funções públicas mais elevadas que existiam naqueles dias, um cargo da mais alta confiança direta do soberano, esse foi dado àquele judeu chamado Neemias. Como diz o capítulo primeiro de Neemias, versículo onze, na linha final: “Nesse tempo eu era o copeiro do rei” –– ou seja, todas as vezes que o rei ia beber qualquer coisa ou ingerir algum alimento, Neemias tinha de provar pessoalmente,  com antecedência, mas no ato. Tal desempenho exigia uma pessoa da absoluta confiança do rei. Tinha de ser então uma pessoa estritamente confiável; e segundo nos relata o livro, este homem tornou-se rico, porque a pessoa que desempenhasse uma função como essa, com toda a certeza, além de ser de confiança, havia de ser muito bem paga, porque praticamente a vida do rei estava em suas mãos. Se o rei fosse pegar uma uvazinha no prato, Neemias tinha que pegar uma também. Se ele fosse provar uma bebida, Neemias tinha que provar também. Era uma pessoa que exercia um cargo invejável. Eu creio que muitas pessoas gostariam de estar naquele cargo. Dentre esses tantos, ele fora o escolhido pelo rei para ocupar esta função. Vivendo com a sua família na província, tendo tudo do bom e do melhor, numa harmonia perfeita com a política da época, e além do mais, debaixo de uma mordomia fora de série, porque a função que ele ocupava dava para isso, para que ou por que Neemias iria se preocupar com outra coisa mais?

 

Mas no fundo, no fundo, você sabe que todo o judeu está afetivamente ligado a sua terra; a terra de Israel não pode existir sem o povo judeu, o povo judeu sem Israel. É por isso que nós vemos esses conflitos todos aí. E nesta nossa época presente, essa briga que estamos vendo hoje entre Israel e seus vizinhos, achamos que é uma carnificina, como de fato é, mas já houve períodos piores na História, como conhecemos através das páginas da Bíblia Sagrada. Entretanto, muito embora vivendo na sua mordomia, na regalia do palácio, Neemias nutria no coração o desejo de notícias sobre Israel, pois ele sabia que tinha um território, tinha uma pátria, tinha uma nação. E diz aqui a Bíblia no versículo dois que um dia chegou uma caravana, lá na província de Susã, onde ele se encontrava. Veio Hanani, um dos meus irmãos, com alguns de Judá; então lhes perguntei pelos judeus que escaparam, que não foram levados para o exílio, e acerca de Jerusalém. Disseram-me: os restantes, que não foram levados para o exílio, e se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo, os muros de Jerusalém estão derrubados, e as suas portas, queimadas. Tendo eu ouvido essas palavras, assentei-me e chorei e lamentei por alguns dias e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus. Veja como esta notícia veio com um impacto tremendo na vida de Neemias. Mas por que esta notícia o perturbou de uma forma tão terrível, por que?

 

Porque este homem tinha uma sensibilidade espiritual muito forte. O amor dele pelo seu povo não lhe permitia viver no apogeu de um palácio, de uma vida regalada, sabendo que os seus irmãos estavam em extrema miséria, em extrema pobreza, num país totalmente destruído, cheia de escombros, muros derrubados e servindo como opróbrio entre as nações da terra. O que é que Neemias teria que se meter com isso, por que fazer essa pergunta?

 

Irmãos queridos, nós estamos observando aqui, neste trecho bíblico, aquilo que a Bíblia sempre nos apresenta, a lei da dupla referência. Na mesma hora em que nos mostra um acontecimento histórico, relata também um acontecimento espiritual. Este homem, diz aqui, tendo ouvido essas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias, e estive jejuando e chorando e orando perante o Deus dos céus. Isto aqui eu chamo, sabe do que? De sensibilidade espiritual. É sentir a dor do seu semelhante, sentir o drama daqueles que são seus irmãos.

 

Um paralelo no nosso tempo

Agora, quando começamos a examinar o mundo em que estamos vivendo, a analisar a situação do século vinte e um, vamos observar que Satanás já conseguiu transformar o nosso mundo em verdadeiros escombros. O nosso mundo está sucateado, diante de tanta miséria que campeia no ambiente social, provocada por pessoas desonestas que ocupam cargos e funções públicas –– não estou aqui generalizando ––, mas são pessoas que só pensam em si, só pensam na sua situação. Observe o drama do pobre, sofredor, nos hospitais do INSS, que não têm como atender à população, que forma filas enormes para receber uma senha, para ser atendida por um médico daqui há uma semana, daqui há quinze dias, daqui há um mês: quando chega o seu dia, esta pessoa não está mais na terra, já morreu, de tanto esperar.

 

Estamos vivendo no meio de escombros de uma sociedade que não se entende. Estamos vivendo no meio de ruínas sociais, de uma miséria extrema, crianças jogadas na rua como se fossem lixo; diante de uma sociedade que não se preocupa com a educação de seus filhos, como deve ser; muitos estão desempregados, e procuram ganhar o seu pão de cada dia de uma forma desonesta e até mesmo usando de violência, à custa da vida humana; estamos diante de escombros sociais. Estamos diante de escombros políticos. Estamos diante dos escombros de uma economia desorientada, perversa, que não se entende. Infelizmente estamos vivendo no meio de uma ruína. E os homens que muitas vezes assumem a mídia, é justamente para mostrar aquilo que está no seu coração, coração corrompido, coração que não teme a Deus. E começam a ensinar absurdos, como nestes dias eu pude observar um cidadão na televisão dizendo que daqui há algum tempo a melhor coisa que vai existir na sociedade é que todo o mundo será promíscuo. A mesma promiscuidade que tem sido levada avante pelo próprio governo, ensinando os nossos adolescentes nas escolas como usar camisinha, quando poderiam mostrar a preservação de uma vida sadia, reservando-se para aquela pessoa que vai ser o seu cônjuge –– não, começam a ensinar justamente promiscuidade. Estamos no meio de escombros. Estamos no meio de uma sociedade desenfreada. Estamos no meio da miséria.

 

Uma santa inquietação

E quando a notícia chegou a Neemias, diz aqui a Bíblia Sagrada, tendo eu ouvido essas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias, estive jejuando e orando perante o Deus dos céus. O que é que Deus quer nestes últimos dias? Homens e mulheres que tenham sensibilidade espiritual para se levantar, não importa a sua situação. “Ah, Pastor Jorge, eu prefiro passar o meu fim de semana na casa de campo, naquele sítio que eu comprei com piscina; acabei de comprar um apartamento na praia, eu quero é fugir desta avalanche de problemas da sociedade; eu vou lá para minha casinha no mato, sabe, eu quero fugir para ali porque o tumulto da cidade me perturba” –– Neemias podia dizer isso: ele estava tão bem dentro do seu palácio, estava tão bem vivendo na mordomia da corte, ganhando um salário altíssimo; para que se preocupar com estas coisas?

 

Mas aqui está um homem querendo saber como é que está a nossa situação, como está vivendo a nossa sociedade, como está vivendo o nosso povo, como se encontram aqueles são nossos irmãos, nossos semelhantes; que Satanás está escravizando, massacrando, maltratando, trazendo a miséria, a pobreza. “Eu me preocupar com isso? Não, eu pego a minha família, pego o meu carro importado, e vou lá para o sítio, para o interior, vou gozar do sabor do que a minha mão propiciou para mim!” Esta a sociedade que nós estamos vivendo; e do que é que Deus precisa? De homens que tenham sensibilidade da dor alheia, do sofrimento alheio, pessoas que estejam realmente sensíveis ao gemido, ao clamor do povo, da sociedade, das crianças, ao clamor de tudo. Mas eu quero dizer para você ainda que dentro dos escombros sociais, políticos e econômicos, existem escombros piores ainda, que são os escombros espirituais. Escombros religiosos. Nós estamos no meio de uma sociedade mística, sociedade que se curva perante ídolos; estamos no meio de uma sociedade que quer pagar para ser salva, que faz todo o empenho, anda de joelhos, paga fortunas de promessa, curva-se perante um pai de santo, por querer naturalmente os favores dos espíritos; e as pessoas estão indo aos roldões, a humanidade está cega, indo para o abismo! E aonde está a nossa sensibilidade espiritual para ver que este cego está indo para o abismo –- e nós estamos aqui no nosso palácio, na nossa casa apainelada [|[8]|], estamos aqui no meio de uma situação tão gostosa, para que sair daqui, não é? Minha caderneta de poupança está poupuda no banco, as minhas economias estão ali, e me dão o prazer de viver o resto da vida, sem me esforçar tanto; já consegui empresas e mais empresas, e hoje tenho o meu dinheiro aí no banco, à vontade… Pois isto é uma miséria muito grande. Olhe o que diz o Livro de Tiago. Quero que você abra a sua Bíblia neste momento em Tiago, capítulo cinco. Tiago traz aqui uma lição interessante, diz ele: Atendei agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras que vos sobrevirão. As vossas riquezas estão corruptas, e as vossas roupagens comidas de traça; o vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por testemunha contra vós mesmos, e há de devorar, como fogo, as vossas carnes. Tesouros acumulastes nos últimos dias. Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que por vós foi retido com fraude, está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos! Esta é a situação. E diz aqui a Bíblia, chorem, ricos, mas chorem uivando, uivo do cão, porque você está colocando o seu coração na riqueza daqui da terra, e diz a Bíblia que onde está o seu tesouro, aí está também o seu coração [|[9]|]. Quantas pessoas poderiam ser salvas se você tirasse no mínimo um percentual do seu dinheiro que está na poupança, para comprar folhetos para dar para a igreja e alguém distribuir, já que você não quer evangelizar; mas outra pessoa pode fazer isto. Já que você não pode ir ao campo missionário, você pode ao menos pagar para alguém ir no seu lugar. Também você não quer sair da mordomia palaciana, mas há quem esteja disposto a ir, precisando apenas de recursos, recursos estes que estão retidos na sua conta bancária. Ora, daqui há pouco o Anticristo chega, e vai confiscar tudo e você vai ficar na estaca zero –– chora uivando, é o que diz a Bíblia Sagrada.

 

Insensibilidade até a retaliação

Nós precisamos é de sensibilidade. Sensibilidade à dor alheia, ao sofrimento dos nossos irmãos. Então diz a Bíblia no versículo quatro de Neemias: tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me e chorei, e clamei por alguns dias, e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus. Quando chega a notícia ao ouvido de algumas pessoas, dando conta de que alguém está na miséria, na pobreza, muitos ainda procuram se justificar: “Também, viu, o tempo que podia trabalhar, estudar, não estudou, não trabalhou; agora está aí nessa situação.” Meu caro, não é hora disso. Um dia desses, debaixo de chuva, estava eu aqui numa das avenidas de Campinas, e em dado momento, entre as filas de carros, surgiu um motoqueiro, trançando entre os carros, como é costume deles; de repente ele foi frear, e a sua moto deslizou, e ele derrapou, caiu, foi escorregando e só parou lá debaixo de um carro que estava na frente do meu. A salvação dele é que o sinal estava fechado nesta hora. Quando aquele moço caiu, o motorista que estava no carro ao meu lado, um taxista, vendo aquela cena, começou a dizer: “Não te disse, motoqueiro, eu te falei, motoqueiro, tenha cuidado, motoqueiro!” Eu me levantei naquele momento, saí do carro e disse: “Meu amigo, isto não é hora de você estar dando sermão aqui para ninguém, é hora de descer do seu carro e ajudar aquele rapaz a sair debaixo daquele veículo, e ajudar a levantar a sua moto, não é para nesta hora você estar aqui apontando o dedo e dando sermão para esta pessoa!” O sinal abriu, ele foi embora.

 

Meus irmãos queridos, cadê a sensibilidade? Vivemos no meio de um mundo insensível. Um mundo insensível, e achamos que a insensibilidade é somente a daquele criminoso, daquele ladrão; é claro que ele é insensível à vida alheia –– mas a insensibilidade maior está do lado daquele que pode fazer o bem e não faz, daquele que tem condições de fazer as coisas certas e não está fazendo; é isto que nós precisamos entender. Quantas e quantas fortunas estão hoje investidas em letras de câmbio, e pessoas estão morrendo por aí, sem Deus, sem paz e sem salvação. Cadê a sensibilidade? então nós observamos que Neemias, como diz no versículo onze, nesse tempo ele era o copeiro do rei.

 

A verdadeira misericórdia implica em ação

Mas a história de Neemias continua aqui no capítulo dois: No mês de nisã, no ano vigésimo do rei Artaxerxes, uma vez posto o vinho diante dele, eu o tomei para o oferecer e lho dei; ora, eu nunca antes estivera triste diante dele. O rei me disse: por que está triste o teu coração? Se não estás doente, tem de ser tristeza do coração. Então temi sobremaneira. Veja só, isto aqui, meu querido irmão, não era uma camuflagem. Não era como aquela pessoa que diz “Coitadinho, não é? Coitado, está sofrendo… Oh!, passando frio aqui, nesta calçada… nessa sarjeta, ó coitadinho!” Irmão querido, aqui você vê que quando Neemias sentiu o drama do seu povo, o sofrimento do povo, o opróbrio da sua nação, a questão abateu-se sobre ele de maneira tão tremenda que o próprio rei notou a diferença no seu semblante; o coração alegre, diz a Bíblia, aformoseia o rosto [|[10]|]; quando você está com o coração alegre o seu coração esta formoso, está bonito; mas quando o coração está triste, isso transparece na face. Neemias ficou tão abatido, a sensibilidade deste homem era tão forte que isso se exteriorizou a ponto do rei notar a diferença. Aquele homem sorridente, alegre, feliz, aquele homem que sempre estava distribuindo otimismo na corte real, de repente o rei nota a sua seriedade, a mudança no seu semblante, a ponto do próprio rei tomar a iniciativa e dizer: “O que é que está acontecendo com você, Neemias?” E diz aqui que ele temeu muito, e respondeu: Viva o rei, para sempre; como não me estaria triste o rosto se a cidade onde estão os sepulcros de meus pais está assolada e tem as portas consumidas ao fogo? Disse-me o rei: O que me pedes agora? Então orei ao Deus dos céus, e disse ao rei: Se é do agrado do rei, e se o teu servo acha mercê na tua presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique. Impressionante, muito impressionante o que está acontecendo aqui na vida deste homem. Peço-te que me envies à cidade dos sepulcros de meus pais. Neemias, com toda a fortuna que tinha, com todo o secretariado que possuía a seu dispor, ele poderia dizer: “Majestade, eu preciso formar agora uma comissão que deve ir a Jerusalém para fazer um levantamento topográfico da terra, fazer também um levantamento da situação social do povo e depois, com o relatório que eles me trouxerem aqui, vou liderar um fundo para socorrer as pessoas que lá estão.” Foi isso que Neemias diz? Absolutamente não. Ele disse: “Eu quero que me envies à cidade dos sepulcros de meus pais, eu quero ir pessoalmente lá!” Esse negócio de mandar comissão, mandar isso, mandar aquilo –– não: “Eu é que quero ir lá; e há mais uma coisa: tudo será feito com os meus próprios recursos. Com os recursos que eu tenho. Não vou angariar fundos, nem mandar que alguém vá. Sou eu que quero ir, sou eu que preciso ir até lá.” Bem diferente de muitos hoje, não é?

 

Um drama dos nossos tempos

Estava eu certa ocasião em Manaus, Amazonas, e fui visitar uma colônia de leprosos. Quando cheguei ao lugar, tratava-se de uma cidade habitada só por pessoas leprosas. Foi dado o aviso de nossa presença pelo circuito interno de rádio da cidade. o outro pastor e eu fomos para o local da pregação, entramos na congregação e estávamos lá sentados; e então, de repente, os irmãos começaram a chegar. Um se segurando no outro. A lepra já tinha comido os dedos das pessoas, não tinham mais a cartilagem do nariz, não tinham mais a cartilagem da orelha, eram aquelas figuras totalmente estranhas, uma se sustentando na outra, porque os reflexos praticamente já se haviam perdido. E vão chegando um e outro, uns que não queriam mais mostrar nem o rosto, só apareciam os olhos, e foram se sentando naquela igreja. Eu dali do meu banco, vendo aquela situação, meu coração foi se partindo naquela hora. E eis que a congregação ficou lotada, só de leprosos. Fiquei lutando com Deus, ali naquele momento: “Senhor, que mensagem queres que eu pregue para este povo, povo sofrido, povo machucado por uma doença tão cruel, como é a lepra?” E aquilo me comoveu de uma tal maneira que o meu coração só mudou quando eles começaram a cantar Muito mais que milionário. Muito mais que milionário!

 

Irmãos queridos, quando andamos pela nossa cidade, você encontra com pessoas bem vestidas, bem trajadas, umas bonitas, umas mais ou menos, outras feias, umas no seu carro, outras a pé, outras de bicicleta, na sua moto, tudo muito bem, umas sorrindo, outras sérias; mas eu quero que você entenda que dentro dessas pessoas está uma alma. Essas almas acham-se carcomidas pelo pecado, o pecado simbolizado pela lepra. São pessoas que, se você pudesse ver a situação interior das pessoas com quem você convive, trabalha, estuda, mora, na sua vizinhança, você poderia observar que estamos literalmente dentro de um leprosário. E assim como eu estava dentro daquela igreja para pregar naquele momento, você a quem Deus tem dado a condição de ter sido perdoado, de ser abençoado espiritualmente e materialmente, será que a sensibilidade espiritual da sua vida não dá para ver a situação do mundo aí fora? Pessoas que precisam de Jesus, que precisam ter um encontro real com o Senhor, pessoas que estão caminhando sem Deus, sem paz, sem salvação? Diz a Bíblia [|[11]|], “como pregarão, se não há quem pregue; como pregarão, se não forem enviados; como serão enviados” –– se não há quem contribua, se não há quem ajude? É preciso que a sensibilidade de Neemias tome conta do coração das pessoas ricas que estão do nosso lado.

 

Sempre e sempre a sedução do mundo!

Voltando por exemplo a Tiago, no capítulo quatro, Tiago diz assim: De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais e invejais e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras, Nada tendes –– por que? –– porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele pois, que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus. Triste descrição a deste trecho, não é? Muito bem. As pessoas pedem, e quando conseguem, vão logo pensando no seu deleite, em ter o bom e o melhor para si. E nós observamos aqui que quando o elemento coloca o coração na sua riqueza, nos privilégios deste mundo, nos prazeres desta vida, ele simplesmente cumpre o que Tiago afirma aqui: “aquele que é amigo do mundo se constitui inimigo de Deus”. Você quer ser amigo de Deus, quer? Você quer ser amigo do Senhor? Então procure fazer as obras que Ele fez. Procure ser imitador Dele, como Paulo declara [|[12]|]; procure, como diz a Bíblia, pois ninguém tem maior amor do que este, o de dar a vida pelo seu próprio irmão, pelo seu próprio amigo –– ninguém tem maior amor do que este, dar a sua vida [|[13]|]. Deus não está pedindo a sua vida, não; Deus não quer que você morra como mártir por alguém, não; Ele quer que você tenha apenas um pingo de sensibilidade espiritual, e entenda que Ele lhe deu condição, capacidade, sabedoria não para ganhar dinheiro para si próprio, mas porque você é uma pessoa que administra os bens que Deus colocou nas suas mãos. E os bens que Deus colocou nas suas mãos não devem ser investidos no apogeu desta vida, em prazeres do mundo, mas sim, para serem investidos no Reino de Deus.

 

O maior valor do investimento

O dinheiro melhor aplicado da vida de um homem não é o que foi empatado na compra de ações da Vale do Rio Doce, ou da Petrobrás, ou naquele carro importado. A Bíblia diz que sábio é aquele que ganha almas [|[14]|]. Quando você vai a uma sociedade bíblica, pega parte do seu dinheiro e compra Bíblias e dá para igrejas, para evangelistas, quando você compra milhões de folhetos e oferece para as igrejas fazerem o trabalho de evangelização, você está investindo no Reino de Deus, você está fazendo alguma coisa para a glória do nome do Senhor. “Ah, Pastor Jorge, mas eu já pago o meu dízimo!” Você não paga nada, você só paga uma coisa que você comprou, e que você deve; dízimo não se paga, dízimo se entrega, porque não nos pertence; e aquilo que não pertence a você tem de ser entregue; você não faz mais do que a sua obrigação em entregar o dízimo daquilo que você ganhou. Agora, independente disto, você pode tirar a sua parte para investir na obra de Deus. Faça isso. Deixe que essa sensibilidade espiritual o ajude a compreender o sofrimento daquela pessoa que está lá fora; eu não falo apenas no relento físico, mas principalmente daqueles que estão doentes, leprosos, mas que estão caminhando sem Deus, sem paz e sem salvação.

 

Oração pela iluminação de Deus

Que Deus, que o Espírito Santo possa, com toda a clareza, vir a seu encontro e transmitir ao seu coração, você que é rico, que tem dinheiro, a quem Deus abençoou em sua vida, economicamente. Então peça para Ele: “Pai, dá-me uma dose de sensibilidade maior para eu ver o mundo que está em escombros, de tal forma que eu possa fazer alguma coisa. Que eu possa dizer, como Neemias fez, peço-te que me envies, eu quero ir lá pessoalmente ver a situação e trabalhar.” Peça a Deus essa sensibilidade. –– Pai de amor, que o Teu Espírito Santo fale ao coração deste nosso leitor, deste irmão e desta irmã, Senhor, que tem condições e não está fazendo absolutamente nada; que o Teu amor e o Teu carinho o envolva, e ele sinta o gemido da alma lá fora, sinta o clamor do mundo e possa fazer alguma coisa, enquanto é dia, enquanto há tempo, enquanto a porta está aberta. Amém.

[ [1] ] Zacarias 12:2.

[ [2] ] Romanos 3:2.

[ [3] ] João 4:22.

[ [4] ] Jeremias 25:11-14.

[ [5] ] Êxodo 23:11.

[ [6] ] Daniel 9:2.

[ [7] ] Era intenção e propósito de Deus, Jeremias 29:4-7.

[ [8] ] Ageu 1:4.

[ [9] ] Mateus 6:21.

[ [10] ] Provérbios 15:13.

[ [11] ] Romanos 10:13-15.

[ [12] ] I Coríntios 11:1.

[ [13] ] João 15:13.

[ [14] ] Provérbios 11:30.