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JORNADA MISSIONÁRIA

Uma expectativa irreal

Trataremos neste capítulo do assunto A Jornada Missionária. Muitas pessoas neste mundo têm desejo de servir a Deus depois que são convertidas e colocam-se na presença do Senhor para que Ele faça de cada um aquilo que Ele realmente quer. Muitas pessoas têm deixado os seus empregos, o seu país, indo a uma terra distante, para pregar o Evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cumprindo a Sua determinação, quando disse: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo, quem porém não crer será condenado [ [1] ]. Esta determinação dada por Jesus Cristo tem os seus seguidores em todos os continentes do mundo. E praticamente em todas as gerações que já palmilharam a terra. A liderança deste Senhor, que está à frente da Sua igreja, é incontestável. Porém, uma das coisas que nós observamos na caminhada ministerial, na caminhada pastoral, ou na vida missionária, de um ministro, de um pregador, de um obreiro, é que muitas pessoas acham que as coisas caminham sempre muito bem, tudo em paz, tudo na maior tranqüilidade. Pensamos muitas vezes que ser um missionário é uma coisa linda, estimulante, empolgante; mas existe um preço a pagar, e um preço muito alto. Existem profissões na vida nas quais você praticamente desfruta e goza de inúmeras amizades, de prestígio e oportunidades contínuas, e um conceito muito grande; mas ser um ministro do Senhor é padecer também.

 

É claro que o ministério tem a sua compensação, tem o seu reconhecimento pelo alto, pelo céu, por Deus, por Jesus Cristo, mas nem sempre é compreendido pelos homens aqui na face da terra. E esta incompreensão muitas vezes parte da própria pessoa que busca a atividade, porque acha bonita a palavra missionário, acha linda a palavra pastor. Mas muitos não sabem o preço que se tem a pagar para se ser realmente usado nas mãos do Senhor.

 

A contrapartida

Certa ocasião um cidadão, um rapaz, via um pastor que todo o dia passava com o seu carro, dirigindo para a sua igreja; via também quando aquele pastor assumia o púlpito, com aquele terno elegante, e ali começava a pregar; terminava, cumprimentava o povo, era cumprimentado, tudo em muita harmonia e alegria; então pegava a sua família, ia para casa. Aquele moço começou a observar aquele pastor e disse: “Ah!, é exatamente isso que eu quero. Esse é um trabalho muito lindo!” E aquele moço, tão empolgado que estava, resolveu se colocar bem ao lado daquele pastor e aprender com ele todo o mecanismo, todas as formas que podem existir com respeito a um discípulo; e aquele moço chegou ao ponto, inclusive, de pedir para morar na casa daquele pastor. Certa noite eles chegaram em casa e de repente, depois daquela ceia, uma oração simples com a família, cada qual se foi dirigindo ao seu quarto. O pastor foi para o seu quarto, aquele moço foi para o quarto vizinho. Em dado momento ele começou a ouvir o pastor orar. Quando percebeu o pastor orando, ele, pam!, de joelhos também, e começou a orar. Ele queria fazer tudo o que o pastor fazia. E o pastor pôs-se a orar. Lá por volta das onze horas da noite, meia-noite, o pastor continuava orando e aquele rapaz, também empolgado, estava orando junto. Pela uma da madrugada o pastor prosseguia na oração e aquele moço começou a sentir canseira. Até que ele dormiu, e quando acordou, o pastor ainda estava orando. E daqui há pouco aquele moço já não ouvia mais o pastor orar. Ele só ouvia o pastor gemer, gemidos e palavras que diziam, “Senhor, olha para aquela moça, Senhor, olha por aquela moça que está passando por aquele problema, Pai; olha por aquela jovem, meu Deus, e dê forças para que ela seja vitoriosa!” E aquele pastor gemia, e chorava, intercedendo por aquela jovem que era uma ovelha do seu rebanho. Lá pelas três horas da madrugada aquele moço ainda continuava a ouvir o gemido do seu pastor. No dia seguinte o pastor levanta-se, toma o seu banho, pega o seu carro, o rapaz está dormindo. Quando despertou e foi ver, o pastor já não estava mais em casa, mas se encontrava no seu expediente, no escritório, trabalhando. O rapaz foi até lá. Quando chegou no escritório, vendo o pastor atender às pessoas, todo de terno e gravata, e imaginou-o descendo do seu carro, assumindo aquele escritório com ar condicionado, tudo muito bem, realmente atraente. Nesse dia, após retornar para a casa, depois da ceia, que o pastor voltou a orar no seu quarto e aquele moço tentou acompanhar o ritmo do pastor, quando chegou lá por volta das três da madrugada, o pastor estava gemendo, estava intercedendo pelas pessoas da sua igreja –– e então aquele moço caiu em si e disse: “olha, se ser pastor é isto, eu não quero!” E ele simplesmente arrumou a sua mala e foi embora.

 

Como começou a viagem

Há muitas pessoas que pensam que a vida pastoral ou ministerial é uma coisa assim, fácil, leve, sossegada: você vê o pastor no seu dia a dia, andando no seu carro, sendo aplaudido, recebido pelo povo, convocado para reuniões políticas e outras coisas mais; mas muitas pessoas não sabem o sofrimento, a intercessão, a dor, a luta que um pastor passa, sozinho, dentro do seu quarto. E muitos só vêem o lado de fora, não estão vendo aquilo que ele está passando aqui dentro. Então abrimos a Palavra de Deus e encontramos o Senhor dizendo: “Paulo, não temas, Meu filho, porque é necessário que você ainda vá pregar o Evangelho em Roma [ [2] ]!” Pregar o Evangelho para o Império Romano, que coisa linda! Que coisa magnífica! Que coisa maravilhosa, ser um missionário e partir para o mundo afora!

 

Só que Deus não disse para o Apóstolo São Paulo de que maneira ele iria: se era de carro, último modelo, se era num Boeing sete-meia-sete da empresa mais moderna do mundo, se Paulo iria se hospedar num hotel quatro ou cinco estrelas quando chegasse nas ilhas do Mediterrâneo, ou até mesmo quando chegasse lá na Europa, se uma comissão naturalmente iria esperá-lo. Deus não falou nada disso para ele. Simplesmente Paulo pegou um navio que ia partindo para aquela região, e diz o capítulo vinte e sete, versículo primeiro, onde começa esta grande viagem missionária, que todos gostariam de fazer, na qual todos gostariam de estar presentes. Como não, numa comitiva como esta, em que segue o Apóstolo São Paulo?

 

Como começou de fato a viagem

Quando foi decidido que navegássemos para a Itália, entregaram Paulo e alguns outros presos a um centurião chamado Júlio, da coorte imperial. Eh, eh! Lá vai o missionário! De que maneira? Nos porões de uma galera, nos porões de um navio, com correntes nos pés, e as mãos livres, para remar junto com aquelas centenas de prisioneiros que iam sendo conduzidas naquele navio para as prisões e para os cárceres mais fechados que poderiam existir na face da terra! Lá vai o missionário no porão do navio. Foi com isto que você sonhou? É isto que você quer? Não, o missionário de hoje quer hotel cinco estrelas, quer o navio ou o avião mais moderno possível, e pergunta logo: “Quanto é que eu vou ganhar? Quando eu chegar lá, será que há alguém me aguardando? Olhem, mandem o Rolls-Royce me esperar naquele lugar, porque o grande apóstolo dos gentios vai chegar naquele cidade!” Mas não foi assim.

 

A narrativa da viagem prossegue: Embarcando no navio adramitino, que estava para estava de partida para costear a Ásia, fizemo-nos ao mar, indo conosco Aristarco, macedônio de Tessalônica. No dia seguinte chegamos a Sidom e Júlio, tratando Paulo com humanidade, permitiu-lhe ir ver os amigos e obter assistência (que estava ali naquela localidade). Felizmente encontramos na nossa caminhada pessoas amigas, tratáveis, hábeis, pessoas que realmente procuram nos ajudar, mesmo que você esteja numa situação incômoda, como Paulo naquele momento, viajando como prisioneiro. E continua a Bíblia: Partindo dali, navegamos sob a proteção de Chipre, por serem contrários os ventos, e tendo atravessado o mar, ao longo da Cilícia e da Panfília, chegamos a Mirra, na Lícia. Achando ali o centurião, um navio de Alexandria, que estava de partida para a Itália, nele nos fez embarcar. Navegando vagarosamente, muitos dias, e tendo chegado com dificuldade defronte de Cnido, não nos sendo permitido prosseguir, por causa do vento contrário, navegamos sob a proteção de Creta, na altura de Salmona. Costeando-a penosamente, chegamos a um lugar chamado Bons Portos, perto do qual estava a cidade de Laséia. Depois de muito tempo, tendo se tornado a navegação perigosa e já passado o tempo do dia do jejum, admoestava-os Paulo, dizendo-lhes, senhores, vejo que a viagem vai ser trabalhosa, com dano e muito prejuízo não só para a carga e o navio mas também das nossas vidas. Mas o centurião dava mais crédito ao piloto e ao mestre do navio do que ao que Paulo dizia. Não sendo um porto próprio para invernar, a maioria deles era de opinião que partissem dali para ver se podiam chegar a Fenice e aí passar o inverno, visto ser um porto de Creta, o qual olhava para nordeste e para sudeste. Soprando brandamente o vento sul, e pensando eles ser alcançado o que desejavam, lançaram âncora e foram costeando mais de perto a ilha de Creta. Entretanto, não muito depois desencadeou-se do lado da ilha, um tufão de vento chamado Euro-Aquilão, sendo o navio arrastado com violência, sem poder resistir ao vento, cessamos a manobra e nos fomos à deriva, e deixamos ir levar o barco pelo vento. Passados sob a proteção de uma ilha chamada Clauda, a custo conseguimos recolher o bote; levando este, usaram de todos os meios para cingir o navio, e temendo que dessem na Sirte, arriaram os aparelhos e foram ao léu. Açoitados severamente pela tormenta, no dia seguinte já aliviavam o navio. E ao terceiro dia nós mesmos, com as próprias mãos, lançamos ao mar a armação do navio; e não aparecendo já há alguns dias nem sol, nem estrelas, caindo sobre nós grande tempestade, dissipou-se afinal, toda a esperança de salvamento.

 

Essa a viagem missionária de Paulo a Roma

Aqui está, praticamente a história de uma viagem tortuosa, quando Deus disse para Paulo: “Paulo, não temas, porque é necessário que você ainda vá pregar o Evangelho em Roma.” O que você deduz: quando Deus manda, tudo vai sair maravilhosamente? Quando Deus guia, não vai ter problema nenhum na caminhada que você está empreendendo; que quando Deus está na direção as tormentas não causam qualquer dano? Mas você está vendo aqui, o grande apóstolo dos gentios, enviado por Deus para pregar o Evangelho na Itália, lá em Roma, segue numa viagem em que, você observa aqui, era tudo contra todos. Quando Paulo ia saindo do navio, ele disse: “Senhores, eu vejo que a viagem vai ser penosa; a tormenta que virá é grande”. Mas você sabe que o comandante experiente, os pilotos e as pessoas que compunham aquela embarcação, lá vão dar ouvidos para um prisioneiro? Alguém que está ali no fundo do barco, amarrado, acorrentado? Não; iam, de fato, dar voz e ação aos experientes marujos que estavam conduzindo aquele navio.

 

Mas o Apóstolo São Paulo sabia, pelo Espírito, que aquela navegação, aquela viagem, seria precipitada, muito difícil, muito dolorosa, cheia de problemas e dificuldades –– enfim, muito ruim. E começam; e lá vem as tormentas, lá vem os vendavais, os grandes vagalhões do mar, que com ímpeto vão batendo sobre aquela embarcação. Os homens tentam a todo o custo amarrar o barco, mas não tem possibilidade; o bote salva-vidas que estava dentro do barco é açoitado e jogado fora do navio, e só com muita dificuldade eles conseguiram trazê-lo de volta, para dentro da embarcação. Mas diz aqui a Bíblia Sagrada que na medida em que eles iam caminhando, foi necessário, como dissera o Apóstolo São Paulo, no que ele mesmo teve de ajudar, que jogassem ao mar, fora do barco, o peso, a mercadoria que estava naquela embarcação. Porque o navio ia para o fundo. Os prisioneiros que estavam ali seriam mortos inevitavelmente, pois todos estavam acorrentados no fundo daquela embarcação. E você pode imaginar a catástrofe que poderia acontecer naquela hora?

 

No versículo vinte diz a Bíblia Sagrada: E não aparecendo havia alguns dias, alguns dias, nem sol, nem estrela, caindo sobre nós grande tempestade, dissipou-se afinal toda a esperança de salvação. Será que você já passou por uma situação como esta, no trabalho missionário? Será que você, como obreiro, como pessoa de linha de frente, como alguém chamado e vocacionado por Deus para o ministério, você já passou por momentos de desespero desta ordem, onde se olha para todos os lados, de todos os ângulos, e você não vê uma saída? Como escreve aqui Lucas, vários dias em que não aparecia nem o sol e nem a lua, era tormenta o tempo todo, tormenta o tempo todo.

 

Testemunho pessoal

E eu quero que você entenda: certa ocasião sofri uma tempestade, sabe aonde? No Rio Negro, no Amazonas, com a minha família, dentro de um barco. A uma hora da tarde veio um temporal tão terrível que você não enxergava sequer a palma da sua mão, tal era o breu que ficou, naquela tempestade, a uma hora da tarde. O sol desapareceu, as trevas tomaram conta daquele local e enfim, foi realmente uma situação muito trágica. As pessoas choravam dentro da embarcação; a mãe, segurando as crianças ali, e vendo aquelas ondas que levavam o barco para cima e para baixo, e o motor de popa, havia momentos em que o motor ficava funcionando fora da água, porque estava por cima daquelas ondas –– era uma coisa realmente terrível. E não é tão distante assim da situação do Mar Mediterrâneo, que também tem as suas águas escuras. E um temporal no Mar Mediterrâneo é treva pura. Diz então Lucas que após vários dias, desaparecidos o sol e a lua, não se via absolutamente nada; e completa aqui a Palavra de Deus que, “caindo grande tempestade, dissipou-se afinal toda a esperança de salvação”.

 

No desempenho da obra há turbulência

Irmãos queridos, prezados leitores, muitas pessoas pensam que a obra de Deus tem de dar certo em todos os sentidos. Há momentos em que a tempestade assola a embarcação. Não é aquela tempestade provocada ou aquela tempestade procurada, não, porque há pessoas que vivem erradamente, uma vida pecaminosa, e depois tem de colher o fruto do seu trabalho pecaminoso; mas eu estou falando daquela tempestade que vem quando você não procura, quando você não espera, quando você não quer. É a obra de Deus, porque você está trabalhando para o Senhor, e as forças do mal se levantam; elas querem atingir, tolher a sua liberdade, cercear a sua caminhada, paralisar o seu ministério, elas pretendem que você não continue a obra de Deus. Mas eu quero que você saiba que o Senhor está sempre presente em toda e qualquer circunstância.

 

É o que observamos ali, naquele momento, durante a tempestade, dentro do barco, como escreveu Lucas, “dissipou-se toda a esperança de salvação”. E prossegue o versículo vinte e um: Havendo todos estado muito tempo sem comer, Paulo pondo-se em pé, no meio deles, disse: Senhores, na verdade era preciso terem-me atendido e não partir de Creta, para evitar este dano e perda. Mas já agora vos aconselho bom ânimo, porque nem uma vida se perderá de entre vós, mas somente o navio, porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas; é preciso que compareças perante César, e eis que Deus, por Sua graça, te deu todos quantos navegam contigo. Portanto, senhores, tende bom ânimo, pois eu confio em Deus que sucederá do modo por que me foi dito. Porém é necessário que vamos dar a uma ilha. Você está observando aqui como são as coisas, como é que Deus trabalha? Naquele temporal, debaixo da tempestade que veio sobre o mar, você pode ver que em pleno oceano, no meio do vendaval, ali estava um servo de Deus recebendo uma visita celestial, em meio às ondas, em pleno barco que se ia quebrando. Ali está o Anjo do Senhor. A Bíblia Sagrada declara que o anjo do Senhor se acampa ao redor daqueles que O temem e os livra [ [3] ] –– ali estava o grande Apóstolo São Paulo, em meio da tempestade, recebendo a visita celestial, a visita de seres angelicais, dizendo simplesmente para ele: “Olhe, nem uma vida vai se perder, ninguém aqui vai morrer, não vai haver danos físicos, mas somente o navio irá ao fundo”. E disse então o Apóstolo São Paulo nesse instante: “é necessário que assim aconteça, mas é preciso que vamos dar numa ilha, vamos encalhar numa ilha.” Irmãos queridos, como é que Deus faz: se não fosse essa tempestade, se não fosse esse temporal, o comandante desse navio jamais teria amolecido o coração para ouvir o Apóstolo São Paulo. Mas você pode observar quem é que está liderando a situação aqui, agora? Quem é que está no comando? Quem é que está falando, quem é que está ditando as ordens, quem é que está dando a orientação aqui? Quando Deus levanta o homem e Ele começa a usar esse homem, Deus capacita e coloca em suas mãos o cajado, para que ele possa liderar de acordo com a vontade de Deus. É justamente isso que nós precisamos entender, que precisamos compreender. Deus usa o temporal, Deus usa a tempestade, para que os seus servos tomem a proeminência, e assumam a liderança do curso deste mundo.

 

Certa semelhança com nosso quotidiano

Nós estamos observando o vendaval que aflige nosso país. Que assola o mundo político. Estamos observando a tristeza que campeia sobre o mundo, mas no meio deste vendaval está a Igreja de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Está a Igreja do Senhor. E nós observamos Deus falando com a Sua Igreja: “Não temas, porque haverá muitos danos materiais; este mundo vai passar por conseqüências funestas, por dissabores incríveis, mas os que permanecerem dentro da Igreja, se ficarem onde estão, se não tentarem pular dessa embarcação, serão muito mais que vencedores, hão de ser vitoriosos em todos os sentidos!” Louvado seja Deus! Por que? Porque a presença de Deus é marcante em nossa vida. Ele está presente em todos os momentos e em todas as circunstâncias.

 

E eis que a grande viagem missionária continua! Veja o versículo vinte e sete. Isto é para você, meu filho, que quer ser um missionário, porque acha que ser missionário é ser bem recebido, é andar de avião, é hospedar-se em hotel cinco estrelas. Mas aqui está o grande missionário do Senhor, o Apóstolo São Paulo –– o versículo vinte e sete diz assim: Quando chegou a décima quarta noite, sendo nós batidos de um lado para o outro, no Mar Adriático, por volta da meia noite, pressentiram os marinheiros que se aproximavam de alguma terra. Catorze dias, hein? Isto aqui não é brincadeira! Catorze dias no meio de um temporal em que não se enxergava um ao outro! Mas nesse momento há um prenúncio de terra à vista: e, lançando o prumo, acharam vinte braças; passado um pouco, mais adiante, tornando a lançar o prumo, acharam quinze braças; e receosos de que fôssemos atirados contra lugares rochosos, lançaram da popa quatro âncoras, e oravam para que rompesse o dia. Pediam para que o dia nascesse. Você já se viu no meio de um temporal desta natureza? Você já se viu no meio de uma tribulação como esta? Em que você fica pedindo a Deus, “Senhor, ajuda para que o dia venha a nascer, para que o raio do sol venha a surgir, porque nós precisamos ver e enxergar alguma coisa!” Catorze dias nessa situação! Lançaram quatro âncoras. Lançaram quatro âncoras, âncoras poderosas, que sustentavam aquele barco desde o fundo do mar.

 

Uma analogia para as quatro âncoras

O número quatro na Bíblia Sagrada tem um significado muito grande. E você sabe quais são as âncoras que sustentam a Igreja para não bater nas pedras deste mundo? Você sabe quais são as quatro âncoras que sustentam a igreja do Senhor na face da terra, para que ela não venha a sucumbir, não venha a naufragar? Quando o Apóstolo São Paulo escreve Aos Efésios, no capítulo quatro, versículo onze, declara ali que Ele mesmo deu uns para apóstolos, primeira âncora; outros para profetas, segunda âncora; outros para evangelistas, terceira âncora; e outros para pastores e mestres –– aqui está a quarta âncora. Esta é a liderança, são as âncoras da Igreja, que sustentam a obra de Deus na face da terra, glória ao nome de Jesus! Se não forem essas âncoras, o barco vai bater, incontestavelmente, contra as paredes rochosas das ilhas do Mediterrâneo; mas a Igreja está sustentada por essas âncoras que Deus tem levantado no seu meio para que a viagem prossiga e a caminhada continue.

 

Os recursos do desespero

Disse Paulo ao centurião e aos soldados: Se estes não permanecerem a bordo, vós não podereis salvar-vos. Quando aqueles marinheiros e a tripulação, as próprias pessoas que estavam dentro do barco, pressentiram que se aproximavam de um terreno sólido, alguma coisa firme, quer uma ilha, quer uma terra, alguma coisa, quando os marinheiros o pressentiram e eis que eles queriam era verem-se livres daquela tempestade, das ondas terríveis, do mar encapelado, do barco se rachando e se quebrando em pedaços, não havia como permanecer mais naquela embarcação, e naquele instante o tormento era tão grande que os homens viam-se prestes a pular. Pois viram a sonda que haviam lançado e entenderam que já estava raso, era sintoma de que ali perto havia terra firme; de noite, sem enxergar nada, sem se ver coisa nenhuma, uma tempestade tão cruel, ondas encapeladas, o céu totalmente escuro, não havia possibilidade de ver coisa nenhuma, e muitos já haviam tentado pular do barco, muitos tentaram sair da embarcação.

 

Podemos aplicar esse quadro ao que está acontecendo hoje em dia. Nós encontramos muitos obreiros, muitos servos e servas de Deus que estão passando por verdadeiros vendavais espirituais, passando por tormentas cruéis na sua vida; é a onda do desemprego, é a doença que assola a família, é justamente a necessidade  e garantir o pão de cada dia, é a família que está se desintegrando; são pais que estão sofrendo nas mãos de filhos cruéis. O vendaval está grande, e muitas pessoas olham assim, só vêem a solução de cair fora do barco. Ainda nestes dias encontrei um jovem que disse: “se ser crente é isto, eu não quero ser crente, eu vou pular deste barco, e vou sair daqui e vou-me embora, e nunca mais quero ser crente!”

 

Meus irmãos queridos, foi isto o que aqueles homens quiseram fazer saindo do barco, pulando do barco. Mas olhe o que Paulo afirmou aqui naquele momento, no versículo trinta e um: Disse Paulo ao centurião e aos soldados: se estes não permanecerem a bordo, vós não podereis salvar-vos. Meu querido irmão, o vendaval está grande? Está assolando o seu barco, está atingindo o seu navio? Está quebrando em pedaços, você sente que a coisa está difícil? Se você pular desse barco, lá do lado de fora está pior! As ondas do mundo aí fora são muito piores; então permaneça nesse barco, porque a vitória vem. A tempestade vai se acabar, a calmaria vem e a vitória vai ser grande, em nome de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo! Mas não tente sair do barco agora; permaneça firme, porque o Senhor está dentro desta embarcação, para acalmar o vento e aquietar o mar.

 

Primeiro: não saia do barco

Muito bem. Orientação número um dada pelo Apóstolo São Paulo: não pule do barco, não saia do barco; a situação aqui dentro da igreja está difícil? Lá fora está pior. Os problemas aqui dentro são grandes? Lá fora o vendaval é pior. Para onde que é que você vai pular? Para onde é que você vai correr? Paulo disse: se você não ficar a bordo, aquele que não permanecer a bordo, esse vai morrer. Mas se permanecer aqui dentro você ainda vai se salvar. Então nós observamos que não é para fugir. Os discípulos, quando iam atravessando o Mar da Galiléia, com Cristo, que o vendaval apareceu naquela hora, que quis levar o barco para o fundo, naquele instante eles não pularam do barco, mas eles apelaram para Jesus: “Senhor, não se Te dá que pereçamos?” E o Senhor, que está sempre dentro do barco, Ele acalmou o vento e a tempestade [ [4] ]. Então, não saia.

 

Segundo: alimente-se corretamente

Orientação número dois do Apóstolo São Paulo: versículo trinta e dois: Então os soldados cortaram os cabos do bote e o deixaram afastar-se. Enquanto amanhecia, Paulo rogava a todos que se alimentassem, dizendo: Hoje é o décimo quarto dia em que, esperando, estais sem comer, nada tendo provado. Eu vos rogo que comais alguma coisa porque disso depende a vossa segurança, pois nenhum de vós perderá nem mesmo um fio de cabelo. Tendo dito isto, tomando um pão deu graças a Deus na presença de todos e depois de o partir, começou a comer. Todos cobraram ânimo e se puseram também a comer. Estávamos no navio duzentas e setenta e seis pessoas ao todo. Refeitos com a comida, aliviaram o navio, lançando o trigo ao mar. Meus queridos irmãos, aqui está a orientação número dois dada pelo Apóstolo São Paulo; a primeira, não fuja do barco; segundo, alimente-se. Catorze dias de tormento, catorze dias de angústia, de sofrimento, de dor, de desemprego, de doença, de lamentos, de fortes vendavais na sua vida, Paulo diz para você agora: “Alimente-se, meu filho, alimente-se! Aqui está um pão: vamos dar graças, e vamos parti-lo, e vamos comer.” A Bíblia Sagrada nos diz –– Jesus Cristo falando –– : “Eu sou o pão vivo que desceu do céu [ [5] ]”. Alimente a sua vida espiritual que, com toda a certeza, isto lhe dará ânimo, força para caminhar; não adianta, no meio da tempestade, você ficar simplesmente lamentando, chorando, falando uma coisa ou outra; mas você tem de pegar a sua Bíblia e começar a se alimentar; você tem de dobrar os seus joelhos. Diz a Bíblia que Paulo deu graças, orou, buscou o Senhor e deu o pão para todos comerem. Jesus Cristo é o pão da vida, é Dele que você tem de se alimentar, é com Ele que você tem de se saciar, é Ele que vai dar força e ânimo para você. Glória ao nome de Jesus!

 

Terceiro: compartilhe

E, terceiro ponto que nós encontramos aqui, neste episódio magnífico: recobradas as suas forças, recobrado o ânimo, voltando o sol a raiar, vendo agora um ao outro, diz a Bíblia que eles pegaram o trigo e jogaram ao mar. O trigo naquele barco era justamente a mercadoria que eles iam levando para a Europa. O trigo era o frete daquele navio. Mas naquele momento, orientados pelo Apóstolo São Paulo, eles com as suas próprias mãos, depois de recobrar ânimo, lançaram o trigo no mar, jogaram fora. Você pode imaginar quem foi beneficiado naquele momento? Com esse trigo que foi jogado no mar? Nada mais nada menos que os peixes que estavam por ali; puderam saciar a sua fome, puderam se alimentar daquele trigo, que estava sendo lançado no mar. A Bíblia Sagrada diz assim, “lança o teu pão sobre as águas e depois de muitos dias o acharás [ [6] ]”. E a Bíblia, quando fala sobre o homem, quando Jesus chamou Pedro e disse, “venham, que eu vou fazer de vocês pescadores de homens [ [7] ]”. E aí está o trigo sendo lançado no mar.

 

Irmão querido, depois que você permaneceu no barco, depois que voltou a calmaria, depois que você se alimentou com o pão pelo qual Paulo orou, que aqui é Jesus Cristo que sacia a nossa fome, então agora você vai passar a alimentar os outros, você vai pegar o trigo e vai lançar ao mar. A Bíblia diz: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura [ [8] ]. O Evangelho é o poder de Deus que sacia a fome e a sede espiritual das pessoas, o Evangelho pode transformar e saciar o mais vil pecador, transformando-o num verdadeiro cidadão do céu. Lance o seu trigo na água, você que já foi beneficiado, você que já foi salvo pela graça, você que está dentro dessa embarcação, então agora continue lançando trigo sobre o mar, glória a Jesus!

 

Conclusão da turbulência no percurso

E diz aqui a Bíblia que estávamos no navio duzentas e setenta e seis pessoas ao todo. Refeitos com a comida, aliviaram o navio, lançando o trigo no mar. Lança o trigo no mar! Prossegue a Bíblia: Quando amanheceu não reconheceram a terra, mas avistaram uma enseada onde havia praia; então consultaram entre si se não podiam encalhar ali o navio; levantando as âncoras, deixaram-no ir ao mar, largando também as amarras do leme; e alcançando a vela de proa ao vento, dirigiram-se para a praia. Dando porém num lugar onde duas correntes se encontravam, encalharam ali o navio; a proa encravou-se e ficou imóvel, mas a popa se abria pela violência do mar. O parecer dos soldados era que matassem os presos para que nenhum deles, nadando, fugisse; mas o centurião, querendo salvar a Paulo, impediu-os de o fazer, e ordenou que os que soubessem nadar fossem os primeiros que se lançassem ao mar, e alcançar a terra. Quanto aos demais, que se salvassem uns em tábuas e outros em destroços do navio. E foi assim que todos se salvaram em terra.

 

O propósito de Deus acima dos obstáculos

Queridos irmãos a viagem missionária nem sempre é um mar de rosas. Mas vêm as tormentas, vêm as angústias, vem o sofrimento, vêm os problemas. Eu quero dizer para você uma coisa: ou de barco ou sem barco, ou barco inteiro ou barco quebrado, ou querendo alguém matar ou querendo alguém escapar pela sua própria vida, de uma maneira ou de outra, se Deus mandou, você vai chegar a esse porto, vai chegar onde Deus quer que você chegue. Mas uma coisa é necessária, como diz aqui o Apóstolo São Paulo: a obediência às normas, aos fatores que estão presentes nessas horas, é importante para você chegar aonde Deus quer que você chegue. Mais cedo ou mais tarde, você vai chegar aonde Deus o mandou –- de tábua, no destroço, nadando, seja de que maneira for, você vai chegar aonde Deus quer que você chegue. Ele vai levá-lo aonde Ele tem um plano para a sua vida. Agora, por gentileza, nunca pense que na obra missionária tudo é bonito, perfeito, magnífico; existe a tempestade, existem as tormentas; mas também existem as multidões que estão sequiosas, esperando que você chegue ali para jogar o trigo no mar e esperando que você possa realmente ser bem sucedido em toda a sua vida ministerial.

 

Não tema, irmão, não tema obreiro, não tema, missionário, não tema, servo de Deus, fale e não se cale [ [9] ], pregue a palavra a tempo e fora de tempo [ [10] ], porque o Grande Comandante está dentro do seu barco para conduzi-lo em triunfo, ao lugar onde quer que você chegue! Que Deus abençoe o seu ministério e a sua vida. Que Deus abençoe a sua pregação, e que você possa ser uma bênção para este mundo, para a família, para a igreja e para a sociedade em que você vive. Não desista, mas siga em frente, em nome de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Glória a Deus para sempre!

[ [1] ] Marcos 16:15-16.

[ [2] ] Atos 23:11.

[ [3] ] Salmos 34:7.

[ [4] ] Marcos 4:35-39.

[ [5] ] João 6:48, 50.

[ [6] ] Eclesiastes 11:1.

[ [7] ] Mateus 4:19.

[ [8] ] Marcos 16:15.

[ [9] ] Atos 18:9f,

[ [10] ] II Timóteo 4:2 (arc)